Ginásio Experimental de Novas Tecnologias (o Gente)
contemplará 180 crianças e jovens da Rocinha. Alunos serão agrupados em equipes
de seis membros, chamadas de “famílias”, independentemente de sua série de
origem
O Rio de Janeiro começa, nas próximas semanas, a
experimentar um novo tipo de escola. Nada de séries, salas de aula com carteiras
enfileiradas e crianças ordenadamente caminhando pelo espaço comum. A aposta
para dar a 180 crianças e jovens da Rocinha uma educação mais alinhada com o
século 21 é o Gente, acrônimo para Ginásio Experimental de Novas Tecnologias, na
escola Municipal André Urani. O espaço, que acaba de ser totalmente reformulado
para comportar a nova proposta, perdeu paredes, lousas, mesas individuais e
professores tradicionais e ganhou grandes salões, tablets, “famílias”, times e
mentores.
Não houve pré-seleção. Os alunos que farão parte
dessa nova metodologia já são os matriculados na escola antes da reforma. Mas
agora as antigas séries serão extintas e não haverá mais as salas de aula
tradicionais, com espaço para 30 e poucos alunos. Em vez disso, os jovens – que
estariam entre o 7º e 9º anos – serão agrupados em equipes de seis membros,
chamadas de “famílias”, independentemente de sua série de origem. A formação das
famílias ocorrerá em parte por afinidade, a partir da escolha dos próprios
membros, e em parte a pelo diagnóstico de habilidades ao qual os alunos se
submeterão no início do ano letivo.
Essa avaliação, que ocorre assim que eles
chegarem ao Gente, pretende fazer um raio-x do estado da aprendizagem de cada
um, tanto do ponto de vista do conteúdo tradicional quanto das habilidades não
cognitivas, como comunicação, senso crítico, autoria. Cada aluno terá um
itinerário de aprendizado pessoal, que funciona como uma espécie de playlist, só
que em vez de músicas, estarão os pontos que ele precisa aprender ou
desenvolver. Será o jovem o responsável por escolher a forma como o conteúdo lhe
será entregue – videoaulas, leituras, atividades individuais ou em grupo. Todas
as semanas os alunos serão avaliados na Máquina de Testes, um programa
inteligente que propõe questões de diferentes níveis de dificuldade, para
garantir a evolução no conteúdo. Quando ele não chegar ao resultado esperado, o
jovem receberá uma atenção individualizada.
Tal atenção é de responsabilidade do mentor da
família, o professor. Cada mentor será responsável por três famílias, que
reunidas serão chamadas de equipe. “O mentor deve dar uma educação mais ampla,
preocupada não só com os conteúdos tradicionais, mas com higiene, com aspectos
socioemocionais do aluno, com a motivação dele”, diz Rafael Parente,
subsecretário de novas tecnologias educacionais da Secretaria Municipal de
Educação do Rio, explicando a mudança no papel do professor naquele contexto. Em
vez de dar aula de português ou matemática, o mentor vai ajudar o aluno a
encontrar a informação de que precisa para entender o conteúdo, mesmo que o
assunto não seja o da sua formação.
Assim, explica Parente, se um professor de língua
portuguesa precisar explicar um assunto mais específico de matemática, ele deve
pedir ajuda para membros da família, se sentar com o aluno para assistir à
videoaula da Educopedia com ele, tentar aprender junto. “O professor não vai ser
mais aquele que transmite o conhecimento. Ele vai ser especialista na arte de
aprender”, diz o subsecretário. O grupo de mentores que fará parte do Gente foi
treinado para essa nova forma de lecionar.
Todos os dias, ao chegarem à escola, os alunos
passarão por um momento de acolhida, em que compartilharão com seus pares
experiências e expectativas para o dia. A jornada na escola é integral. Neste
tempo, com o auxílio de seu itinerário e a liderança do tutor, cada um deverá
decidir o que e em que ordem estudar e poderá, à livre escolha, se juntar a
grupos de estudo de língua estrangeira, robótica, esportes, artes,
desenvolvimento de blogs. É nesse momento que uma pergunta inevitável aparece:
mas se o aluno não quiser fazer nada, ele não vai fazer nada, certo? Mais ou
menos. Os mentores, explica Parente, estarão sempre por perto para motivar os
alunos a avançarem, as avaliações mostrarão quem está ficando para trás e os
integrantes da família – o tal grupo de seis – também deve incentivar uns aos
outros. “Quando o aluno é protagonista do próprio aprendizado, faz suas
escolhas, ele se envolve mais, se empolga mais com a escola.”
A tecnologia é outro fator importante na forma
como o projeto foi organizado. Para que os alunos possam escolher entre ambiente
virtual ou presencial, era preciso que todos os alunos tivessem acesso a
equipamentos e internet. Por isso, cada aluno terá o seu tablet ou netbook e,
quando for pedagogicamente justificável, vai poder levá-lo para casa. Todas as
dependências do André Urani terão internet sem fio de alta velocidade.
Fonte: Fonte: Portal Porvir
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