terça-feira, 30 de outubro de 2012

Dados da Educação Superior – Presencial e a Distância

O Inep divulgou os dados do Censo da Educação Superior 2011, anunciados no dia 16/10 pelo ministro Aloizio Mercadante. As planilhas apresentadas mostram que o Brasil tem 2.365 Instituições de Ensino Superior, das quais 284 públicas e 2.081 privadas. Nesse número, 190 são universidades, 131 centros universitários, 2.004 são faculdades e 40 institutos federais e Cefets.

Segundo o Censo, 5.746.762 alunos estão matriculados no ensino presencial e 992.927 na educação a distância. Os números demonstram que, no período 2010-2011, a matrícula em cursos de Graduação nas universidades cresceu 7,9% na rede pública e 4,8% na rede privada, o que configura uma média de crescimento de 5,6% nas matrículas para o ensino superior.

Baixar Dados -

Fonte- http://www.educacaoadistancia.blog.br

Horizon Report terá versão brasileira até o final do ano



Um dos principais estudos mundiais sobre o uso de tecnologias na educação, o Horizon Report ganhará uma versão brasileira até o final do ano. Um time de especialistas das mais diversas áreas –como EAD (educação à distância), games, entre outras- vem trabalhando de forma colaborativa desde agosto, com a previsão de lançar a versão nacional do Horizon Report em 21 de novembro.

O relatório mapeia o uso de tecnologias na educação na atualidade e em um horizonte de até cinco anos a partir de sua publicação, apresentando um diagnóstico para o período. Em outras palavras, o educador vai encontrar nele tendências que podem ter impacto no ensino nos próximos anos, levantadas coletivamente por especialistas.

A primeira versão nacional chega através de uma parceria entre a NMC (The New Medium Consortium, organização que edita o relatório original) e a Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro). “Sentimos falta de um estudo brasileiro que demonstrasse a evolução das tecnologias e sua aplicação nas salas de aula e que pudesse ser comparável com resultados mundiais”, afirma Bruno Gomes, assessor de Tecnologias Educacionais do Sistema Firjan e um dos responsáveis pela parceria.

Realidade brasileira

Uma das colaboradoras do relatório é Cristiana Assumpção, especialista no uso de tecnologias na educação que já participou de seminários e pesquisas do Horizon Report internacional em anos anteriores.
“Foi muito positivo para nossa comunidade de pesquisadores trabalhar de forma colaborativa”, afirma. Entre as tecnologias levantadas no estudo, Cristiana chama atenção para a relevância do uso de vídeos em sala de aula no Brasil, pouco mencionada nos relatórios internacionais e muito louvada pelos pesquisadores locais. Além das videoaulas, a questão da telefonia móvel também apareceu. “Na minha opinião, ela vai mudar a educação e está entrando com muita força nas escolas”, defende Cristiana.
”’O Brasil é muito diverso. Em cinco anos, escolas particulares estarão em um nível diferente das públicas” João Mattar

João Mattar, outro participante das investigações, aponta que o relatório reuniu pesquisadores de alto nível sobre o tema no Brasil. “As pessoas que participaram são representativas na visão do uso de tecnologias na educação no Brasil”, afirma ele, que ressalta a questão da formação do docente como outro destaque do relatório: “Mais de um pesquisador apontou, em mais de um momento, que para aquela tecnologia em questão funcionar é preciso formar professores. A mensagem geral do relatório é esta: não adianta jogar o computador na mão do professor e esperar que ele se vire”.

Na opinião de Cristiana, também chama atenção no relatório o levantamento de iniciativas pioneiras no Brasil e no mundo, na etapa de investigação. “Fizemos um verdadeiro banco de dados de projetos que utilizam as tecnologias em algum nível na educação e as melhores poderão entrar no relatório”, explica.
Método de investigaçãoO Horizon Report vem sendo construído em um ambiente wiki onde diversos especialistas e professores possam levantar tecnologias e iniciativas, debatê-las e avaliar a sua efetividade e sua absorção nas salas de aula no presente e em um futuro próximo.

Cristiana conta que, a partir destas fases de levantamento, os especialistas votam nas tecnologias que eles consideram mais relevantes. A partir daí, a lista vai ficando menor, até que se estabelece a relação de tecnologias e métodos que vão ganhar destaque no diagnóstico.

Bruno Gomes afirma que este processo pode, ainda, contribuir para o desenvolvimento de novos estudiosos sobre o assunto. “Existem poucos profissionais altamente qualificados neste tema no Brasil. Certamente com a publicação do relatório, teremos uma abertura maior para discussão e incentivaremos novos educadores a refletir e aplicar as tecnologias no ambiente educacional”, acredita.

João Mattar, no entanto, se colocou mais cético a respeito do processo, que questiona as tecnologias que mais podem mudar a educação no Brasil. Para ele, os problemas de infraestrutura das escolas públicas no país são uma questão à parte que deveria ser considerada na elaboração do relatório. “O Brasil é muito diverso. Em cinco anos, escolas particulares estarão em um nível diferente das públicas”, pontua.

Site de Origem: www.institutoclaro.org.br

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Educação presencial está caindo entre 5% e 15% ao ano

Dados coletas por Newton Campos na 18ª conferência anual da Sloan Consortium que é uma das principais associações de educação a distância dos EUA.

1) Em muitas cidades dos Estados Unidos, a educação presencial formal a tempo completo está caindo entre 5% e 15% ao ano;

2) Quando há crescimento, mais de 50% deste se dá através da educação a distância;

3) Estudos mostram que, para muitas profissões, a educação já tornou-se uma atividade “para o resto da vida” (“a life long task”), diluindo o valor de diplomas específicos ou antigos;

4) Identificar, contratar, treinar e administrar professores que saibam dar aulas a distância já está se tornando um diferencial para muitas universidades norte-americanas;

5) A realização de exames presenciais (em centros físicos de aplicação de exames) ou exames a distancia para cursos online (com tecnologias sofisticadas de identificação pessoal) já são uma realidade ao menos em 50 universidades norte-americanas;

6) As 3 principais forças que hoje agem a favor dos cursos abertos online (MOOCs, consultar postaqui) são: a popularização do acesso à internet, a redução dos custos de tecnologias e a recessão econômica norte-americana;

7) Os MOOCs (cursos abertos online) estão recebendo investimentos maciços em centenas de universidades, mas ainda não se mostraram eficientes: apenas 20% dos alunos participam ativamente das aulas e menos de 3% terminam os cursos oferecidos. Iniciou-se uma interessante curva de aprendizagem.

8 ) Os MOOCs (cursos abertos online) mais consolidados no mercado norte-americano até o momento são oferecidos pelas seguintes organizações: Khan Academy, Edx, Cousera, Minerva, Peer 2 Peer University, Saylor, TED-Ed, Udacity e Udemy.

Entre uma palestra e outra tive a honra de conversar por 5 minutos com o Prof. Sebastian Thrun, Prof. de Inteligência Artificial em Stanford, Diretor no Google e fundador do Udacity.

Sou um grande fã dele. Afinal, ele foi o primeiro professor da história a dar aula a uma turma de mais de 160 mil alunos. Tudo começou há menos de 2 anos: ele se inspirou numa palestra do Salman Khan da Khan Academy para abrir sua aula de Inteligência Artificial para o mundo. A experiência foi tão impactante que o fez criar a Udacity.

Ninguém sabe ainda como ganhar dinheiro com os MOOCs. O Udacity deve apostar por um modelo vinculado à identificação de talentos (headhunting). Ou seja, as empresas que contratem os melhores alunos da Udacity lhes pagará uma taxa por este serviço de procura e identificação de talentos.

Perguntei-lhe sobre o que achava da possibilidade de se criar um MOOC misturando alunos pagantes com alunos gratuitos, com diferentes graus de acesso ao serviço educativo. O Sebastian acha que este formato é possível, mas não aposta por este modelo.

Home page dele: http://www.newtoncampos.com

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Tecnologia promete eficiência na avaliação dos alunos a Distância

Para atender à exigência do Ministério da Educação (MEC) de que pelo menos 51% da nota de cada disciplina do aluno seja presencial, cursos de Educação a Distância (EAD) apostam na digitalização das provas.

Desde o primeiro semestre do ano passado, a PUC de Minas Gerais utiliza o Sistema de Gestão de Provas (SGP) nas avaliações dos cerca de 600 alunos de graduação e 2.200 de pós em EAD. Desenvolvido fora da universidade, ele está sendo usado também em outras instituições de ensino e permite a criação de um banco de questões, a elaboração das provas a partir de critérios pré-definidos de dificuldade e a impressão diretamente no local da avaliação.

O CEO da empresa responsável pelo sistema, Adriano Guimarães, conta que em cada prova é impresso um QR code, uma espécie de código de barras. Depois que a tarefa é concluída pelo estudante, esse material é digitalizado e vai direto para o professor responsável pela disciplina. Através do software, o docente pode fazer comentários, riscar e fazer qualquer intervenção que faria com a avaliação física. A empresa criou também um aplicativo para tablets em que o professor pode corrigir a prova através da ferramenta com o dedo, como se estivesse com o papel na mão. “Ele pode levar o tablet pra praia e corrigir à beira-mar se quiser”, conta Guimarães.

É possível ainda usar a mesma ferramenta no desktop para fazer correções e comentários. Depois disso, o teste é liberado para o aluno, que tem acesso através do navegador de internet. Esse processo pode ser feito tanto em desktops como em tablets, e não é necessário baixar um aplicativo.
O diretor de ensino a distância da PUC Minas, Marcos André Kutova, conta que, antes da implantação, esse processo era mais difícil e os alunos só tinham acesso às provas corrigidas se fizessem essa solicitação específica e, então, ela era enviada pelo correio. Na opinião do diretor da Associação Brasileira de Educação à Distância (ABED), Luciano Sathler, esse retorno do professor é fundamental para a fixação e para o melhor entendimento do conteúdo por parte do estudante.

Para Sathler, as regras impostas pelo MEC – como a exigência de provas presenciais – para reconhecimento dos cursos são necessárias para o desenvolvimento sadio da atividade, mas acabam travando o processo. “Na Europa, Estados Unidos ou Ásia, a legislação não entra nesse nível de detalhe. No mundo inteiro a qualidade dos cursos é avaliada pelo resultado. No Brasil, é pelo resultado, pelo Enade, por exemplo, mas também pelo processo. Infelizmente, no nosso País, creio que isso seja necessário para que o EAD possa crescer em quantidade, mas com qualidade”, explica Sathler.

Segundo censo realizado pelo MEC em 2010, existem no Brasil 930 cursos de graduação pelo método a distância. Além disso, são diversas as opções de pós-graduação nos quais o aluno não precisa estar no mesmo ambiente físico do professor, mas precisa ser avaliado como se estivesse. Ao todo, em 2010, um milhão de pessoas já estudavam através das diversas modalidades de ensino a distância no Brasil. O número impressiona, mas ainda representa pouco frente ao potencial de crescimento desse método de ensino. O diretor da Associação Brasileira de Educação à Distância (ABED), Luciano Sathler, explica que, apesar de crescente, a baixa quantidade de jovens e adultos com ensino superior mostra o quanto a modalidade pode crescer.

FGV desenvolveu seu próprio sistema de avaliação digital 


Depois de comprar o SGP, a Fundação Getúlio Vargas (FGV) acabou criando sua própria versão e aplicou em todos os seus cursos online pagos – que atingem 90 mil alunos em 2012 -, além de parte dos gratuitos. O sistema teve modificações como permitir links entre as questões corrigidas e a posição no material didático em que se encontra a resposta correta. “O que a gente pode garantir é que a evolução do aluno depende do trinômio qualidade do material, conteúdo e desempenho. Essa ferramenta melhora o processo de avaliação em si. É possível destacar comentários que vão ajudar o aluno a complementar seu aprendizado”, diz o diretor executivo da FGV Online, Stavros Xanthopoylos.

Na Unicamp existe apenas um curso em EAD. Coordenado pelo professor e pesquisador Munir Skaf, essa atividade faz parte de um convênio feito pelo governo de São Paulo que aprimora a formação dos professores da rede pública do Estado. Como 40 das 360 aulas do curso são feitas de modo presencial, as atividades discursivas ficam para esses momentos, e as provas são objetivas, aplicadas pelo setor de vestibulares da instituição. A plataforma de aulas, no entanto, é interativa e navegável, o que permite a troca tanto entre os alunos como entre esses e os mediadores.

Internet ruim mantém regiões afastadas longe das inovações


Segundo o diretor da ABED, algumas instituições de ensino não podem fazer a troca para sistemas mais modernos como o SGP simplesmente porque não há internet de banda larga em todas as regiões do Brasil. “Isso faz com que entidades de muito boa qualidade fiquem presas a tecnologias da década de 1970, como a transmissão de aulas via satélite”, conta. Nesse caso, as provas são realizadas nos polos e enviadas para correção dos professores, e apenas as notas são divulgadas.

Fonte: Terra

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Matrículas em cursos de educação a distância sobem 58%

Segundo estudo da Abed, em 2011, foram feitos

3,5 milhões de registros.






Para presidente da Abed, educação a distância permite escolher como, onde e quando estudar


As matrículas em cursos de educação a distância aumentaram 58% no Brasil entre 2010 e 2011, ultrapassando a marca de 3,5 milhões de registros. O número consta do Censo de Educação a Distância 2011, lançado pela Associação Brasileira de Educação a Distância (Abed) e pela empresa de soluções educacionais Pearson Brasil. A Abed, contudo, afirma que o crescimento poderia ser ainda maior se a penetração da internet no país fosse superior.

Segundo dados do Ibope divulgados nesta terça-feira, cerca de 71 milhões de brasileiros têm acesso à internet em locais de trabalho ou residência. Desses, 45% têm banda larga. Ou seja, ainda há muita gente sem acesso à rede. “Além de custarem menos, aulas pelo computador aumentam a conveniência e a interação do aluno. Quanto mais banda larga tivermos, mais o setor crescerá”, diz Fredric Litto, presidente da Abed e fundador da Escola do Futuro da Universidade de São Paulo (USP).

O Censo de EAD 2011 também chama a atenção pela supremacia dos cursos livres em relação aos corporativos e aos autorizados pelo Ministério da Educação (MEC), como as modalidades de graduação e técnica. A tendência não havia sido verificada nas pesquisas anteriores.

Os cursos livres registraram aumento de quase quatro vezes no número de matrículas, passando a responder por 77% do total. Para Litto esses cursos prosperam porque não precisam seguir regras de controle do MEC, o que os torna mais inovadores, dinâmicos e, por consequência, atrativos.

Nessa modalidade, encaixam-se, por exemplo, cursos de língua estrangeira e história da arte. Outra razão para o sucesso dessa modalidade seria o reconhecimento, pela socidade, de que parte das profissões não exige para seu exercício uma graduação formal. “Você precisa de conhecimento e inteligência, mas o diploma universitário não é absolutamente fundamental a todos”, afirma Litto.

Apesar do interesse crescente por cursos a distância, nem todos os brasileiros levam a tarefa até o fim. A evasão entre os cursos corporativos cresceu nada menos do que 163%. Entre os cursos autorizados e livres, a evolução da evasão foi menor: respectivamente, 10% e 5,8%.

A hegemonia das instituições privadas no segmento do EAD é outra evidência do levantamento: essas escolas respondem por 60,5% das matrículas. O restante dos alunos está dividido entre instituições sem fins lucrativos (14,5%) e públicas (15%) – os 10% restantes se referem a fundações, entre outras. A região Sudeste concentra a maior oferta de cursos. Mas é a Sul que aparece no topo do ranking de matrículas, com mais da metade dos registros.

Perfil dos alunos – Com exceção dos cursos corporativos, onde 52% dos estudantes são homens, as mulheres ainda predominam no EAD. Nas modalidades autorizada e livre, elas representam 57% do total de estudantes.

O presidente da Abed defende que a motivação e a disciplina entre os estudantes do EAD já superam as registradas entre os alunos de cursos presenciais. A idade média daqueles é de 30 anos. “Em geral, são pessoas casadas, com filhos e que precisam avançar na carreira. Elas precisam ganhar dinheiro”, diz.
Para Litto, a tendência de crescimento da EAD deve se confirmar nos próximos censos do setor. “As pessoas querem conhecimento, mas também desejam escolher de que forma, onde, quando e como adquiri-lo. Nesse sentido, o ensino presencial é muito limitado”, diz.

Fonte: Veja

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Inovações em EaD na América


Quantas vezes você já leu ou viu uma matéria sobre educação a distância no jornal e se perguntou: “Mas… Como acontece?”. A educação na modalidade a distância tem sido difundida e vem apresentando resultados não apenas no Brasil como no mundo. Este artigo comenta sobre as novidades e inovações na educação a distância na América Latina a partir de uma interessante experiência liderada pelo New Media Consortium(NMC),dos Estados Unidos,e pela Universitat Oberta de Catalunya,da Espanha.Trata-se do relatório “Perspectivas tecnológicas: educação superior na Ibero-América 2012-2017”, que será lançado em breve com versão em português.

O Projeto Horizón reflete um esforço de colaboração plurianual entre o NMC e o eLearn Center da Universitat Oberta de Catalunya, com o objetivo de orientar os responsáveis pela educação superior a respeito dos importantes avanços tecnológicos, a fim de apoiar o ensino, a aprendizagem e a investigação na educação superior. Pela segunda vez neste ano trabalharam em um relatório com a comunidade latino-americana e mais Portugal e Espanha.

A investigação foi desenvolvida com o intuito de elaborar um relatório baseado em uma adaptação do método Delphi e coordenada pelo NMC. Esta técnica permite trabalhar com grupos de especialistas, visando atingir um consenso entre os diversos pontos de vista de seus participantes. Nesse caso, a discussão centrou-se no impacto das novas tecnologias no ensino, na aprendizagem, na pesquisa e na gestão da informação na educação superior ibero-americana nos próximos cinco anos. O relatório sobre a educação superior na Ibero-América 2012-2017 foi elaborado com o objetivo de explorar as tecnologias emergentes e prever o seu impacto potencial no contexto ibero-americano. O trabalho foi realizado entre fevereiro e abril de 2012 e baseado no trabalho de um grupo de quarenta e cinco especialistas.

O grupo iniciou as suas reflexões em torno de uma série de perguntas, de modo a discutir tendências e desafios, além de identificar uma ampla gama de tecnologias com potencial uso educativo. As doze tecnologias emergentes apresentadas no relatório refletem, uma vez que os consultores pertencem às universidades latino-americanas, o estado da educação superior na Ibero-América. Cabe explicar que participam do estudo Portugal e Espanha, que liderou o proceso de discussão.

As tecnologias que ficaram em evidência para os próximos cinco anos foram: aplicações móveis, computação em nuvem, conteúdo aberto, ambientes colaborativos, análises de aprendizagem, aplicações semânticas, uso de tablets, cursos abertos on-line em massa, realidade aumentada, aprendizagem com base em jogos, ambientes pessoais de aprendizagem e geolocalização.

Mas, o que significa essa seleção de tecnologias aplicadas à educação pelos especialistas envolvidos na pesquisa?
Em primeiro lugar, o projeto parte do princípio de que todas as universidades participantes ― e são muitas distribuídas por países como Brasil, Colômbia, México, Uruguai, Venezuela, Argentina, entre outros ― utilizam a tecnologia em maior ou menor grau em seus cursos. Esses especialistas acreditam que existem desafios a serem superados, entre os quais citaram os seguintes pontos que apresentamos para nossa discussão:
  • A alfabetização digital é chave em todas as disciplinas e profissões, sendo necessário promovê-la a partir de qualquer programa educativo;
  • É necessário mudar as estruturas institucionais de acordo com modelos da sociedade do conhecimento;
  • As universidades, em especial seus professores, devem fazer um uso eficiente e apropriado das tecnologias para a facilitação da aprendizagem e da pesquisa.
Entendemos, portanto, que sem a alfabetização digital de nossos professores e alunos, ficaremos à margem do desenvolvimento científico provocado pela chamada sociedade e/ou economia do conhecimento, como propõem Gibbons et al. (1994). As tecnologias devem ser utilizadas não por si só, mas com o intuito da melhoria da aprendizagem. Reparem bem, falamos na melhoria da aprendizagem mudando o foco do professor para o aluno. Isso significa que as tecnologias podem e devem trazer modificações na estrutura do ensino superior, tornando as salas de aula mais cooperativas e utilizando as chamadas redes sociais on-line e buscadores para a pesquisa de conteúdos, resignificando a prática pedagógica em sala de aula.

Algumas tecnologias que foram listadas, como a computação em nuvem, a geolocalização, as aplicações semânticas e a realidade aumentada, referem-se mais precisamente aos desenvolvedores, ao passo que os conteúdos abertos, uso de ambientes de aprendizagem colaborativos, cursos abertos oferecidos massivamente e o uso de tablets referem-se aos professores.

Afirmo isto porque a computação em nuvem trata do armazenamento de arquivos e do acesso a atualizações de software que ficam guardados fora dos servidores e das máquinas das instituições. Com o crescente número de dados a serem armazenados, essa parece ser uma excelente solução, desde que o suporte técnico atenda a contento o usuário.

A geolocalização trabalha com a localização em superfície terrestre, podendo expressar-se com duas coordenadas que podem ser lidas nos dispositivos móveis, tais como o celular, o GPS (que vemos nos táxis, atualmente) e que permite localizar a nossa posição. Podemos gravar as nossas coordenadas ao mesmo tempo em que tiramos fotografias, falamos com amigos ou publicamos atualizações nas redes sociais.

As aplicações semânticas inferem o significado ou a semântica da informação na internet para estabelecer ligações e proporcionar respostas que, de outro modo, implicariam dedicar uma grande quantidade de tempo e esforço. As aplicações semânticas facilitam a investigação, ao permitir ao usuário encontrar, partilhar, combinar e relacionar informação na internet, como já fazemos hoje em diferentes buscadores, tais como o Google, o Bing, o Yahoo, entre outros.

Os sistemas de realidade aumentada (RA) baseiam-se na geração de imagens novas a partir da combinação de informação digital em tempo real e do campo de visão de uma pessoa. Encontramos utilizações da realidade aumentada em cursos técnicos e, atualmente, há possibilidade de grande crescimento, uma vez que alunos podem conhecer detalhes do funcionamento técnico de um problema dado.

A adoção de conteúdos abertos está relacionada com uma mudança cultural, e não tecnológica. O conteúdo aberto envolve não apenas o intercâmbio de informação, mas também o intercâmbio de práticas pedagógicas e experiências. Parte do atrativo do conteúdo aberto também constitui uma resposta aos crescentes custos de publicação e à falta de recursos educativos em algumas regiões, bem como uma alternativa rentável aos livros de texto e outros materiais. No Brasil, uma iniciativa do Ministério da Educação (MEC) pode ser encontrada no site da PUC-RJ ou no Portal do Professor, um programa do MEC. Nesse portal, os professores podem encontrar, em português, metodologias e práticas pedagógicas inovadoras na área de ciência e tecnologia, além de materiais didáticos sob diversos formatos digitais em outras línguas, tais como espanhol, inglês e francês.

Os ambientes colaborativos são espaços on-line (habitualmente alojados na “nuvem”), que facilitam o intercâmbio e o trabalho em grupo, independentemente de onde se encontrem os participantes. O atributo essencial das tecnologias nessa categoria consiste em tornar mais simples para as pessoas que partilham interesses e ideias trabalhar em projetos conjuntos e supervisionar o progresso coletivo.

Os tablets chegaram a ser considerados não apenas uma nova categoria de dispositivos móveis, mas uma nova tecnologia que combina características de portáteis e telefones inteligentes com internet sempre ligada e com milhares de aplicações para personalizar a experiência. Já estão sendo disseminados entre professores e alunos nas universidades.

Enfim, há uma tendência à inovação na educação superior em toda a América Latina, como vimos ao longo deste artigo, mas para que essa inovação se cumpra é necessário romper com velhos paradigmas do ensino, a fim de tornarmos nosso aluno um indivíduo participante e interessado em sua própria aprendizagem.

Por: Gilda Helena Bernardino de Campos

Fonte: comciencia

Uma pesquisadora e suas bananas nas conferências TEDx SP e TED Global


Para quem ainda não ouviu falar sobre as conferências TED ou TEDx e a forma inovadora e rápida de se espalhar ideias e inspirações, explico. O TED, inicialmente reunia três grandes áreas: tecnologia, entretenimento e design (daí a sigla). Teve início em 1984. É uma organização sem fins lucrativos cujo objetivo é o de espalhar ideias por meio de palestras que são disponibilizadas na internet, e tem como slogan a sentença “ideas worth spreading” (ideias que merecem ser espalhadas).
Hoje as palestras reúnem muito mais do que aquelas três áreas iniciais – numa conferência TED, pode-se ver de tudo no palco, desde cozinheiros, comediantes, artistas, empreendedores de sucesso, até cientistas. E, todos, mesmo os mais brilhantes pensadores, além do exemplo e da ideia a ser disseminada, têm de fazer algo ainda mais desafiador: apresentar-se em até 18 minutos.

Na atualidade, existem duas conferências anuais, uma em Long Beach, no estado da Califórnia, nos Estados Unidos, e outra em Edimburgo, na Escócia. Durante quatro dias, mais de mil pessoas participam do evento, com até 50 apresentações que não são divididas em sessões temáticas, ou seja, as informações são compartilhadas com todos os participantes da mesma forma.
Já os eventos TEDx foram criados no mesmo estilo do TED Global, no entanto, são projetados de forma a estimular o diálogo e a troca de experiências localmente, seja por meio de palestras ou vídeos (TEDTalks). Os TEDx são elaborados de maneira independente do TED Global, de acordo com a comunidade local e suas necessidades.

O primeiro evento TEDx no Brasil foi realizado em São Paulo, em novembro de 2009, no Teatro Anhembi Morumbi, no bairro da Mooca . O TEDx SP foi gratuito e contou com a participação de 30 palestrantes e uma plateia de aproximadamente 700 pessoas que ficou atenta das 07h00 até as 20h00. Durante os intervalos, palestrantes e espectadores trocavam experiências. O desafio dos convidados para dar as palestras foi discutir, em no máximo quinze minutos, sobre “O que o Brasil tem a oferecer ao mundo hoje”.

Fui uma das convidadas a dividir o palco do TEDx SP com nomes como Paulo Saldiva, Fernanda Viegas, Osvaldo Stella, Regina Casé e Ronaldo Lemos, dentre outros. Acredito que o convite tenha surgido devido ao reconhecimento nacional do meu trabalho de mestrado, concluído no Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen) no ano de 2008, sob orientação de Mitiko Yamaura; o trabalho recebeu o primeiro lugar do Prêmio Jovem Cientista, do CNPq, e abordou a aplicação de cascas de banana na remoção de poluentes da água.

Quando me falaram que eu só teria seis minutos para explicar o que eu tinha realizado, pensei que era uma brincadeira, mas após assistir alguns TEDTalks, vi que era possível e falei em cinco minutos e cinquenta e um segundos (veja a palestra).

Em linhas gerais, comentei que, frente ao cenário ambiental caótico em que vivemos, o Brasil tem a oferecer, além da criatividade, técnica. Como exemplo, citei meu trabalho de pesquisa e finalizei a apresentação com uma analogia do modelo acadêmico comparando as universidades com a cidade imaginária Laputa, do livro As viagens de Gulliver (de Jonathan Swift), na qual os pesquisadores possuem dois olhos, um virado para dentro e o outro para o alto, impossibilitando-os de enxergar os problemas reais ao redor de si.
Após essa experiência, fui convidada a participar do TED Global 2010, realizado em Oxford, na Inglaterra; lá o tempo foi ainda mais escasso, apenas três minutos. O evento em Oxford foi ainda mais intenso, visto que ao invés de um dia apenas, tínhamos quatro dias de imersão no mundo de novas, ousadas e inspiradoras ideias.

Também fui a outro evento TED e, dessa vez, fiquei na plateia. O TEDx Amazônia ocorreu em novembro de 2010 em Manaus, no Amazon Jungle Palace, com acesso apenas por barco; esse hotel possui um auditório flutuante localizado no Rio Negro, no qual 45 palestrantes e 400 espectadores dividiram suas experiências e emoções durante dois dias. Lá pude conhecer muitas ideias e palestrantes interessantíssimos. Destaco aqui dois nomes, Thiago de Mello (poeta amazonense) e José Claudio Ribeiro (castanheiro do Pará).

O primeiro nos ensinou, por meio de sua poesia, que não temos um caminho novo; o que temos de novo é o jeito de caminhar. Já o segundo, em maio de 2011, infelizmente, transformou-se num mártir, ao ser assassinado junto com sua esposa, por defender a floresta e suas castanheiras nas reservas extrativistas do Pará.

Findados tais eventos, resta uma dúvida: o que fazer com as informações recebidas? Como transformá-las em algo útil? Como sair do mundo das ideias rumo ao mundo real da aplicação e da geração de conhecimento? Informação não é conhecimento, espalhar ideias ainda não é transformar o mundo. De nada vale ouvir, sentir, conversar e fotografar se não causarmos uma mudança na qualidade de vida dos indivíduos ao nosso redor. O que conta são as pessoas e não as coisas.

Por: Milena Boniolo

Fonte: comciencia

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Centro de produção de materiais didáticos digitais: a experiência do Instituto UFC Virtual

A utilização de metodologias e didáticas no ensino superior como as peculiares à educação semipresencial e o uso de tecnologias, potencialmente, estão mudando a cultura da educação em todas as partes do mundo. Trabalhar com tecnologia aplicada à educação requer da instituição o domínio técnico sobre as ferramentas, mas, sobretudo, maturidade para a utilização adequada que venha a efetivamente trazer bons resultados. Para se obter profundidade quanto ao entendimento sobre o potencial da tecnologia enquanto aplicação educacional, é importante que não só se experimente seu uso, mas que se possa chegar a condição de desenvolvimento personalizado de ferramentas quando necessário. Essa condição de domínio para a construção de artefatos tecnológicos, se destaca frente a uma postura limitada de usuário, mero configurador de aplicações pré-existentes. No nosso entender, essa autonomia é de suma importância para um uso desenvolto e vanguardista de tecnologias voltadas à educação.
Partindo do entendimento de que teríamos que desenvolver nosso próprio formato de Centro de Produção Multimídia que trabalha com cursos nas diversas modalidades de ensino, porém, com o uso de tecnologias para enriquecer e transformar as práticas educacionais, o Instituto Universidade Virtual (IUVI), da Universidade Federal do Ceará (UFC) se deparou com certos desafios, como: a) formação de equipes de trabalho; b) rrganização da produção; c) desenvolvimento de sistemas; e d) inovação.

Formação das equipes de trabalho

Iniciar um centro de produção de material didático digital requer a constituição de equipes para se trabalhar para este fim. A opção de se elaborar material didático que seja multimidiático, demanda da instituição a necessidade de criar um grupo de trabalho multidisciplinar. Dessa forma, a configuração de uma equipe abre espaço para profissionais de áreas como design, comunicação social, computação, educação dentre outros. Esses profissionais possuem uma formação disciplinar e o resultado do trabalho é um produto multidisciplinar, então nos deparamos com a necessidade de fazer com que esses profissionais trabalhem interdisciplinarmente. Assim, foi percebida a necessidade de que, em alguns momentos, fossem desconstruídas, um pouco, suas visões unidirecionais nos seus campos de saber, para que pudessem vislumbrar seu trabalho como parte de algo mais abrangente e plural. Foi de suma importância, nessa etapa, que tivéssemos momentos de reflexão sobre os trabalhos em conjunto e sobre a prática de cada um, analisando de que forma poderia se coadunar os esforços em equipe.

Na ausência de uma capacitação convencional, esses momentos de reflexão sobre a prática a ser desenvolvida foram essenciais para o início dos trabalhos. Em 2009, a partir de uma decisão estratégica de se propiciar uma formação diferenciada que viesse a atender não só ao IUVI mas, sobretudo, à sociedade, foi desenvolvido o curso de bacharelado em Sistemas e Mídias Digitais, que possui uma formação acadêmica pensada para o trabalho interdisciplinar. Atualmente, boa parte de nossos colaboradores são alunos deste curso.
Aliado ao bacharelado, temos também a oferta pontual de oficinas específicas para nivelamento rápido de novos membros das equipes.

Organização da produção

A adequada gestão dos recursos disponíveis para o trabalho em um centro de produção é um dos pontos cruciais para a obtenção de sucesso. Lidar com os atrasos no recebimento dos materiais por parte de professores conteudistas, fazer uma adequada distribuição das atividades, verificar em tempo real o estado das atividades, identificar a sobrecarga ou subutilização das equipes são questões rotineiras de um gestor de centro de produção. Para realizar esse acompanhamento, foi implementado um fluxo próprio para o desenvolvimento de atividades, feito de forma colaborativa e multidisciplinar por professores, equipe pedagógica (também denominada de equipe de transição didática, homônima ao processo), e equipe de produção técnica (programadores web e designers). A figura abaixo apresenta o fluxo de produção estabelecido.

Fluxo de produção

Fase 0 (pré-fluxo): Esta fase é constituída por momentos de contextualização do professor conteudista tanto em relação ao processo de produção de material didático do IUVI, como pela apresentação dos potenciais de utilização de TICs na prática educacional específica do professor. Esses momentos podem ser compostos por seminários, formações e reuniões individuais ou em pequenos grupos de professores divididos por unidades curriculares. Ainda, nesta fase, são dadas as primeiras orientações ao professor sobre planejamento de um componente curricular que venha a utilizar as TICs em apoio à sua oferta nos cursos presenciais ou semipresenciais. Para preparar e facilitar o diálogo, foi desenvolvida uma capacitação específica para o professor conteudista ( com regime de 90horas/ano).

Fase 1: Neste momento o professor produz o conteúdo e, em seguida, realiza a entrega do material original, parcial ou integral, que será utilizado para as aulas (agenda, aulas, material de apoio etc);

Fase 2: Os responsáveis pelo recebimento do conteúdo das aulas darão início à segunda fase, denominada homonimamente de “transição didática” (TD). O trabalho da equipe de TD consiste na apropriação do conteúdo das aulas em busca da assimilação da proposta idealizada pelo conteudista. Com o objetivo de auxiliar e promover a construção de uma aprendizagem significativa, cabe à equipe de TD sugerir a utilização e a criação de ferramentas capazes de tornar o conteúdo mais acessível e de fácil compreensão em um formato compatível com a metodologia em questão, sem perder a proposta didática original. Concluído o trabalho da equipe, as aulas são encaminhadas por email ao professor conteudista para sua apreciação .

O professor conteudista recebe as aulas com as sugestões dadas pela equipe de TD, as quais deverão ser minuciosamente revisadas pelo mesmo. Esta fase é denominada de “primeira revisão”. Este é o momento mais adequado para o professor discordar/concordar, acrescentar/excluir ou sugerir alterações no conteúdo. Enfim, verificar se as aulas estão em conformidade com a sua proposta de ensino. Feito a análise, o professor devolverá o material com suas considerações à equipe de TD para que a mesma análise a proposta acatando completa ou parcialmente as considerações apontadas em sua revisão – há um diálogo conciliatório entre as partes. Com o documento aprovado tanto pelo professor quanto pela equipe de TD, esta encaminha a proposta para a equipe de produção.

Fase 3: Esta fase denominada de “produção e formatação”, realizará um processo técnico de concretização da proposta elaborada para o formato web. São utilizados linguagem específica e documentos padronizados que facilitem a comunicação entre o professor, a equipe de TD e a formatação (equipes de produção e desenvolvimento). A equipe de produção dispõe de um conhecimento técnico de produção e edição de vídeo, design gráfico 2D/3D, programação computacional para jogos, dispositivos móveis e web, e é a responsável pela materialização da proposta elaborada pelo professor e pela equipe de TD. Ao final, há uma disponibilização do conteúdo, já publicado em formato web, para que a equipe da TD possa validar o estado atual da proposta.

Fase 4: Também denominada “revisão da TD”, esta fase é caracterizada pela conferência, por parte da equipe de TD, se a implementação técnica da proposta sugerida na segunda fase foi corretamente implementada. Dentre outros aspectos, o conteúdo formatado deve estar em sintonia com a agenda em relação à quantidade de aulas, títulos, tópicos, fóruns, portfólios e material de apoio. Se o material estiver em conformidade com a proposta, será dado prosseguimento ao processo. Se não, retorna à etapa anterior para as devidas correções.

Fase 5: Chamada de “segunda revisão do professor”, esta fase é o momento em que a aula é publicada em teste no AVA – SOLAR para apreciação do professor. Nessa ocasião, o professor confere, pela primeira vez, a aula na web. É então verificada a conformidade da aula com a sua proposta de ensino, considerando possíveis ajustes. Neste último caso, o professor preenche um documento denominado de “segunda revisão do professor”, no qual constam as alterações consideradas necessárias. Tal documento faz com que a aula retorne à fase 4, repetindo o processo, até que o professor dê autorização para a publicação.

Fase 6: Denominada “fase de publicação”,é quando é feita a configuração do curso e publicação do conteúdo no AVA – no caso da UFC, no ambiente SOLAR, mas que poderia ser em qualquer outro ambiente escolhido pela instituição – no espaço para aplicação do componente curricular com alunos e tutores.

Esta fase ocorre quando a ação demandar que a UFC seja responsável pela publicação. Quando a atividade negociada se restringir à produção de material didático por parte da UFC, as aulas são disponibilizadas em um repositório específico para que a instituição que fará a publicação possa acessar os arquivos.

Fase 7: Esta é a etapa em que o aluno obtém acesso ao curso no AVA. Assim como destacado na Fase 6, ela pode ou não existir dependendo da natureza da ação. Nos cursos em que a UFC é responsável também pela oferta, é feita então, nesta etapa, a alocação de professores, tutores e coordenadores nas turmas.

Sistemas de informação

A adoção de sistemas de informação permitiu o trabalho colaborativo das equipes e acompanhamento por parte dos gestores. A equipe de desenvolvimento de sistemas construiu uma ferramenta de gerência de projetos que registra todos os estágios definidos pelo fluxo de trabalho do IUVI. Assim, é possível acompanhar em tempo real o que cada um está desenvolvendo, informar ao professor sobre os marcos de revisão, redistribuir as equipes para a finalização de um conteúdo com maior urgência etc.
Outro sistema utilizado é o de controle de versões. A utilização de uma ferramentaopensource para essa finalidade dá segurança ao trabalho colaborativo das equipes e permite o registro histórico do desenvolvimento e recuperação de versões. Esse versionamento é importante, pois é comum que professores façam revisões sobre o conteúdo originalmente produzido por um colega.

Todo o material produzido e armazenado no repositório de mídias é interligado a um sistema web que permite a busca e recuperação de conteúdos produzidos. Esse acervo tem sido utilizado pelas equipes de produção propiciando o reuso de recursos já produzidos, amentando assim a produtividade do trabalho.

Desenvolvimento de sistemas

Para a criação e, principalmente, evolução de sistemas como AVA’s, integração de sistemas educacionais a sistemas de controle acadêmico, estruturação de segurança da informação da instituição, construção de sistemas de apoio à gestão de equipes etc, é de suma importância a existência de um grupo multidisciplinar que conte com pessoas das áreas de usabilidade, análise e modelagem de software, programação, testes e design de interface.
Atualmente estão sendo desenvolvidos, concomitantemente, uma plêiade de sistemas por essa equipe.

Inovação

Como descrito ao longo deste artigo, estabelecer uma estrutura fluída de produção exige dos gestores, em um primeiro momento, esforços no sentido de bem especificar o escopo das etapas de trabalho, criar dispositivos de controle e contingenciamento, elaborar uma cristalina especificação de papéis etc. Por outro lado, uma vez superado esses desafios, fatalmente esse gestor chegará à conclusão de que há um processo de robotização de sua equipe, algo completamente negativo a um processo que deve ser plenamente criativo e em constante estado de aperfeiçoamento. Mas como fazer com que a equipe de produção venha a atender aos prazos e demandas, cada vez maiores, e ainda assim conseguir refletir sobre sua prática e sobre o estado da arte de tecnologias e metodologias de conteúdos educacionais?
No IUVI, a saída para este dilema foi a criação de estruturas paralelas à produção, as Células. As Células são grupos de pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias e metodologias, que promovem a criação de novas formas hipermodais de conteúdo. As células são coordenadas por professores do IUVI e contam com a participação de bolsistas e alunos voluntários de cursos como Sistemas e Mídias Digitais. Atualmente existem 6 células, que são: animação, jogos sérios, comunicação, audiovisual, usabilidade e EDM (educational data mining). Os objetos resultantes das células comumente são incorporados aos conteúdos produzidos pelo Centro de Produção.

O futuro

O IUVI está trabalhando para que possa disponibilizar em um intervalo de, no máximo, um ano um conjunto de sistemas integrados que permitirão a IES produzirem material didático multiplataforma e de forma natural à prática docente. A suíte de software a ser apresentada contemplará os diversos dispositivos (tablets, PCs, smartphones), permitindo a produção de conteúdos para esses dispositivos e o compartilhamento de conteúdos em repositórios multimídia. Todos esses sistemas serão integrados e permitirão a produção diversificada e que transcenda o atual cenário restrito de um centro de produção, fazendo com que toda uma comunidade acadêmica passe a produzir conteúdo didático multimídia.

Outro desafio de trabalho onde se quer avançar é sobre a personalização de conteúdo. Conseguir imprimir nos conteúdos um determinado nível de personalização ao aluno, levando em consideração, ainda que minimamente, sua base de conhecimento e seu contexto social, será um grande avanço para termos materiais que venham a trazer maiores benefícios a esses alunos.

Por: Mauro C Pequeno e Henrique Sérgio L. Pequeno

Fonte: comciencia

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Educação a distância e mídia-educação: da modalidade ao método

Educação a distância: a oportunidade de inovar

Dentre as mudanças sociais mais importantes nas sociedades contemporâneas cabe ressaltar o incrível progresso das tecnologias de informação e comunicação (TIC), parte de um fenômeno mais amplo que se pode definir como uma tecnificação intensa da vida humana. Essas mutações tecnológicas exigem do indivíduo do século XXI novas competências comunicacionais e novos modos de acesso à cultura e de aquisição do saber (aprender a aprender e re-aprender constantemente). As crianças chegam à escola com habilidades, conhecimentos e valores construídos com essas mídias fascinantes, as TIC conectadas à internet, a rede mundial de computadores. Com as TIC, as novas gerações estão criando formas novas de aprender e um imaginário desconhecido dos adultos, inclusive professores, cuja formação ignora essas tecnologias, que são, no entanto, elementos essenciais das culturas dos jovens.

A crescente complexidade das sociedades, o avanço tecnológico (informática, telecomunicações, digitalização, nanotecnologia etc) e suas aplicações no mundo do trabalho geram um crescimento quantitativo e qualitativo da demanda de educação: cada vez mais pessoas querendo educar-se em áreas cada vez mais variadas, ao longo da vida. Diversidades culturais, socioeconômicas e cognitivas de populações estudantes cada vez mais numerosas exigem profundas transformações nos sistemas de educação, em suas estratégias e finalidades sociais e, sobretudo, em suas metodologias. Para poder responder àquelas demandas e oferecer uma educação adequada às culturas jovens será preciso reinventar a pedagogia e ampliar muito os investimentos e as inovações.

Neste contexto, a educação a distância (EaD) aparece como uma solução, um caminho para a inovação. A educação a distância é inovadora não apenas por responder às demandas quantitativas de democratização do acesso ao ensino superior, técnico e supletivo, mas também por contribuir para a melhoria da qualidade da educação: ao favorecer a integração das TIC aos processos educacionais, atividades de ensino a distância estimulam e possibilitam a inovação metodológica, permitindo que os sistemas educacionais se modernizem e ofereçam um ensino mais sintonizado com as culturas das novas gerações e com as demandas da sociedade.

As tendências mais prováveis no mundo de hoje indicam uma convergência das duas modalidades de ensino (presencial e a distância), com o crescente uso de TICs e metodologias decorrentes, além de sinergias positivas entre elas, com vantagens para ambas: o ensino convencional se beneficiaria com as inovações metodológicas desenvolvidas pela EaD e o ensino a distância seria beneficiado pela excelecência e longa experiência acadêmica das universidades. Tal convergência é especialmente importante na formação de professores da escola básica.

Outra tendência atual, a convergência técnica1, é extremamente importante para a educação pois, como dizia o educador canadense Marshall McLuhan, “o meio é a mensagem”, ou seja, a sofisticação crescente das TICs e a democratização do acesso a esses novos dispositivos provocam transformações sociais, culturais, econômicas, políticas e, por consequência, nos modos de perceber o mundo, de aprender e de agir. Como é natural e evidente, tais transformações nos modos de perceber e aprender atingem mais fortemente crianças e jovens, que vivem seu processo de socialização2, o que demanda mudanças radicais nos modos de ensinar, de organizar a oferta de ensino, de criar ambientes de aprendizagem. 

Novos modos de aprender
Do ponto de vista conceitual, seria pois essencial deslocar o foco da discussão sobre a EaD, da modalidade para o método, isto é, dos modos de organização da oferta de ensino (presencial, a distância, com cotas, intensivo, estendido, progressão curricular por disciplinas, créditos, temporal, modular etc) para a invenção de novos métodos de ensino mais adaptados às culturas jovens. Essas culturas são audiovisuais, impregnadas de TICs, consumo e participação, e exigem métodos de aprendizagem mais autônomos, integração das novas mídias/TICs, pedagogias baseadas no uso intensivo de mensagens e tecnologias audiovisuais.

Tais métodos têm que considerar tudo o que as crianças e jovens já conhecem (são usuários assíduos) e que a escola ignora. As estratégias de aprendizagem que os jovens desenvolvem (autodidaxia, ensaio e erro, colaboração…) são os elementos chaves dessa nova pedagogia (leia artigo de Belloni & Gomes, 2008).

Esses novos modos de aprender mais autônomos, as novas gerações vêm desenvolvendo fora da escola, interagindo entre pares (isto é, os jovens entre eles), muitas vezes em situações de aprendizagem colaborativa, utilizando as diferentes ferramentas disponíveis na internet. Tais ferramentas, porém, não são neutras e sualógica (instrumental, mercantil, publicitária) determina, em grande parte, as aprendizagens construídas pelas crianças. De modo geral, os conteúdos veiculados por essas redes (jogos, música, filmes, vídeos) são comerciais, espetaculares e pouco educativos, mas os métodos de comunicação utilizados são extremamentes eficientes, potencializados pela virtudes comunicacionais das TICs e das redes.

Para inventar uma pedagogia adequada, é preciso aprender com os jovens, sobre essesmétodos de comunicação e apropriar-se desses novos métodos de aprendizagem para integrá-los aos métodos de ensino, numa perspectiva de mídia-educação. Isso significa utilizar as virtudes educacionais das TICs como meios para fazer a crítica de sua lógica e de seus próprios conteúdos, com o objetivo de formação do usuário crítico e criativo.

A compreensão das relações entre as TICs (entendidas como processos sociais) e os processos educacionais (a que chamamos genericamente “educação”) é fundamental para a criação de pedagogias adequadas. Para tanto, é imprescindível estudar e aprender com os jovens, sujeitos do processo de socialização, porque eles, nativos desta era da informática e das telecomunicações, consideram tais tecnologias tão naturais quanto qualquer outro elemento de seu universo de socialização. Estão, portanto, mais aptos (do que nós adultos) a delas extrairem o melhor e o pior para construir sua formação.

Mídia-Educação: metodologia da EaD

As definições mais atuais de mídia-educação se referem, em primeiro lugar, à inclusão digital, ou seja, à universalização do acesso e à apropriação dos modos de operar essas “máquinas maravilhosas”, que abrem as portas do mundo encantado da rede mundial de computadores, possibilitando a todos se tornarem produtores de mensagens midiáticas. A mídia-educação tem três dimensões essenciais : i) objeto de estudo, que é a leitura crítica de mensagens e linguagens; ii) ferramenta pedagógica, que diz respeito ao uso de mídias em situações de aprendizagem, isto é, à integração aos processos educacionais ; iii) apropriação crítica e criativa das mídias como meios ou ferramentas de expressão e participação, acessíveis a qualquer cidadão jovem ou adulto (vejaRevista PontOCom).

É importante enfatizar a necessidade da mídia-educação face à onipresença das mídias na vida social, principalmente na vida dos jovens, como elementos importantes dacultura contemporânea, como meios potenciais de participação ativa do cidadão e como ferramentas de expressão da criatividade pessoal. Cabe ressaltar também a importância, cada vez maior, da mídia-educação para lutar contra as desigualdades (sociais e regionais) de acesso às diferentes mídias e para a formação das competências necessárias ao domínio técnico e à compreensão crítica, não apenas das mensagens das mídias, como das forças político-econômicas que as estruturam. Competências estas indispensáveis para o exercício pleno da cidadania, ou seja, para estimular a participação ativa dos jovens baseada na valorização das diversidades culturais e identitárias (leiaartigo de Bévort & Belloni, 2009).

Não se trata apenas de inclusão digital (mera alfabetização de massa), mas deletramento em pixel, ou formação crítica e criativa em audiovisual. Fazer das mídias objetos de estudo na escola significa formar o cidadão capaz de exigir das mídias de massa (os donos da voz) mercadorias (mensagens, conteúdos) de qualidade, adequadas aos objetivos comunicacionais e educativos previstos na lei e não cumpridos. Um cidadão também capaz de lutar, utilizando os canais da democracia representativa e as mídias, para exigir regulação da comunicação de massa no Brasil (a voz dos donos). Assim, ele seria formado para fazer uma leitura crítica das mensagens e recusar as que contradigam princípios éticos, estéticos e educativos. E, por fim, para poder expressar-se de modo crítico e criativo, utilizando todas as linguagens e ferramentas de informação e comunicação que o avanço técnico coloca à disposição da sociedade (leia artigo de Belloni & Lapa, /2012).

A educação a distância é uma modalidade de ensino que substitui a relação direta entre um professor e um grupo de alunos reunidos em uma sala de aula, por uma relação de ensino e de aprendizagem, entre diversos professores e muitos estudantes, baseada na mediação de tecnologias de informação e comunicação. A discussão sobre essa modalidade de ensino tem sido focada no fator distância e consequente separação física entre o professor e o aluno, que quebra o modelo tradicional da relação didática baseada na transmissão do conhecimento pelo professor-que-sabe ao aluno-que-não-sabe. O professor é o centro do processo, pois ele detém o conhecimento dos conteúdos e escolhe o método de ensino. Essa discussão está permeada de tensões e incompreensões no campo da educação, que revelam as contradições dos campos de interesse e um certo receio de que o professor seja substituído pelas mídias. Tal compreensão é porém equivocada, pois não apenas a integração das novas mídias aos processos de aprendizagem não substitui o professor, mas ao contrário torna mais complexa sua função e exige formação específica.

No modelo convencional de ensino, baseado no texto impresso e na figura central do professor em sala de aula, o foco está no conteúdo a ser transmitido e adquirido (o que levou Paulo Freire a qualificar esse modelo como uma relação “bancária”), enquanto o método é visto do ponto de vista do ensino e não da aprendizagem. Na educação a distância o uso intensivo de mídias subverte totalmente essa relação, colocando o foco na auto-aprendizagem e nos novos modos de aprender com as mídias. Dois aspectos são essenciais à EaD: a mediatização técnica, que substitui a sala de aula por ambientes virtuais de aprendizagem, e a mudança radical nos papéis respectivos de professor e aluno, na qual os professores produzem materiais e os estudantes assumem a gestão de sua aprendizagem (aberta e flexível) e colaboram entre si nesses ambientes.

Na EaD o ensino passa a ser assegurado não mais por um indivíduo isolado em sua sala de aula, transmitindo seu conhecimento e experiência a um grupo relativamente pequeno de alunos, mas por equipes interdisciplinares de planejamento e produção de materiais midiáticos. Os estudantes, mais numerosos, não estão mais reunidos numa sala de aula, mas dispersos no espaço e no tempo, autônomos, sem controle de frequência. Por isso, a educação a distância é desaconselhada para crianças e adolescentes. O estudante autônomo, que é a figura chave da EaD, tem que achar em si próprio a motivação para os estudos, a disciplina para organizar e cumprir tarefas e prazos e uma certa cultura escolar e midiática que lhe permite ir construindo sua aprendizagem e seus métodos. Esse isolamento do estudante, individualização extrema do ensino, pode ser compensado pelo uso de ferramentas interativas que facilitam o trabalho colaborativo e permitem à equipe docente (professores, tutores, produtores) acompanhar e apoiar a aprendizagem (fóruns, mail, redes sociais etc).

Para compreender o que está em jogo na EaD é preciso, pois, deslocar o foco da discussão da modalidade para o método, isto é, para os modos de ensinar e aprender com esses novos artefatos técnicos e, sobretudo, é imprescindível levar em consideração o que os aprendentes já aprenderam com eles. Geeks, hackers, nerds ou nativos digitais, qualquer que seja a denominação tentativa de descrever as características das novas gerações de estudantes, o fato é que elas são usuárias ativas e participativas dessas novas técnicas, utilizando-as para interagir, informar-se, aprender. Criam, assim, universos culturais e imaginários totalmente desconhecidos dos adultos em geral e da instituição escolar em particular. Além disto, é preciso não esquecer que a cultura dos jovens é essencialmente audiovisual, ao contrário da cultura escolar, baseada no discurso verbal oral e escrito.

Atualmente, em que pese o avanço técnico na área da comunicação, e a disseminação dessas TICs em todas as esferas da sociedade, transformando o mundo do trabalho e a vida das pessoas, os métodos de ensino, da pré-escola ao ensino superior, obedecem à mesma lógica linear e analítica da linguagem verbal escrita e, na maioria dos casos, ainda uma disciplinaridade quase inflexível. As mídias audiovisuais, agora com virtudes comunicacionais potencializadas porque digitais e interativas, desenvolvem e estimulam outros modos de perceber o mundo (habilidades perceptivas e cognitivas), outras sensibilidades e, por consequência, outros métodos de aprendizagem, decorrentes em grande parte de sua interação com as mídias digitais em rede ou não. Tais fenômenos não são totalmente novos na sociedade: a internet tem 20 anos, a televisão 60 e o cinema já completou seu primeiro centenário). No entanto, a educação em seus diferentes níveis tem dificuldade de integrar em seus métodos as novas lógicas e competências desenvolvidas pelos jovens usuários em suas relações com as mídias (portanto fora da escola e à sua revelia).

Nessa perspectiva, deve-se entender a EaD a partir de uma integração mais ampla das tecnologias de informação e comunicação aos processos de ensino e de aprendizagem. Amídia-educação constituiria, assim, uma espécie de método para realizar tal integração, à escola em todos seus níveis, de modo analítico, crítico e criativo e não meramente instrumental.

Uma das áreas onde a EaD faz muito sentido e pode trazer grandes contribuições à melhoria da educação em todos os níveis é a formação de professores, desde que seja realizada numa perspectiva de mídia-educação: não se trata apenas de “instrumentalizar” o professor para usar TIC em suas práticas pedagógicas, mas de prepará-lo para formar cidadãos capazes de ser usuários competentes, críticos, criativos e participativos, a começar por ele próprio. O tema educação a distância é um corolário lógico dos argumentos desenvolvidos acima em favor da integração das TICs à escola: a educação a distância, cujos principais programas desenvolvidos hoje no Brasil são de formação de professores, pode trazer uma grande contribuição para a revolução necessária nessa formação, pois certamente o professor que participou de um processo de aprendizagem autônomo e utilizou tecnologias para aprender estará melhor preparado para utilizá-las de modo competente e criativo com seus alunos e assim reinventar a pedagogia.

 
Tecnologias e qualidade: cenários de mudança

 
Quanto às tecnologiasé imprescindível pensá-las criticamente, considerando-as não como “extensões” de nossos sentidos (McLuhan) ou como próteses turbinando nossos corpos e potencializando nossas capacidades, mas como ferramentas a serviço da criatividade humana e da liberdade. Para isso, é preciso contestar as teses sociotécnicas, que consideram homens e máquinas como partes de uma mesma rede regidos por regras técnicas, e desenvolver uma sociopolítica dos usos, inventandopráticas comunicativas e informativas libertárias que permitam aos jovens escapar da dominação cultural e comunicacional e apropriar-se dessas técnicas colocando-as ao serviço de sua formação como pessoas autônomas. Cabe lembrar que as TICs são dispositivos técnicos especialmente sofisticados e ambivalentes, podendo funcionar como meios de opressão da liberdade ou como meios de criação e expressão e de exercício da cidadania.

Não existem avaliações comparativas que nos permitam concluir que a qualidade da formação presencial é melhor do que a oferecida na modalidade a distância. Mas existem estudos que revelam a baixa qualidade da formação de grande parte dos professores da escola básica no Brasil. Por esta razão, trabalho com a hipótese otimista que, neste momento no Brasil, a formação de professores em cursos a distância pode contribuir efetivamente para melhorar a qualidade da formação presencial e, num futuro próximo, a qualidade do ensino básico. Agora, em caráter emergencial, a EaD permite ampliar rapidamente o atendimento, assegurando a qualidade, atingindo regiões e grupos de professores que de outra forma não poderiam ser incluídos, levando até eles uma formação elaborada e realizada por profissionais competentes de nossas melhores universidades públicas. No futuro, podemos pensar no Brasil, em educação a distância integrada às instituições de ensino superior convencionais, numa proposta pedagógica e científica que integre o uso das tecnologias de informação e comunicação de modo a otimizar tempo e recursos, e dar ao professor do ensino superior oportunidades de adequar melhor seu trabalho aos modos de aprender dos jovens estudantes. Essa convergência de paradigmas significaria uma universidade aberta onde os estudantes podem escolher atividades a distância (em ambiente virtuais) e /ou presenciais, segundo seus interesses e necessidades.

Neste sentido, a proposta brasileira de uma Universidade Aberta (UAB), construída por e nas universidades convencionais, poderia ser um caminho bastante adequado de ampliar a oferta e democratizar o acesso assegurando a qualidade acadêmica. Tais cenários otimistas dependem, todavia, de políticas públicas enérgicas, realistas e generosas que não estejam baseadas no princípio equivocado e ilusório de que a EaD permite economizar recursos financeiros. Infelizmente até o momento, a UAB continua sendo mais um programa de caráter emergencial e transitório do que uma nova proposta de oferta de ensino superior. Mesmo nas universidades participantes da UAB, suas atividades não estão integradas ao sistema regular de ensino.

A EaD permite economizar tempo, vencer distâncias, inovar metodológica e tecnicamente, mas para dar certo exige investimentos consequentes, não apenas em equipamentos, mas principalmente na formação e remuneração de todos os profissionais envolvidos. Ao contrário do que muitos pensam, a EaD de qualidade exige altos investimentos e seu custo menor por estudante é uma ilusão que só se torna realidade quando há grandes contingentes de estudantes que finalizam com sucesso os estudos numa perspectiva de longo prazo que permite amortizar os investimentos iniciais. Infelizmente, a ilusão de que a EaD vai permitir aos governos ampliar a oferta de ensino superior a baixos custos está na base das políticas públicas do setor, como mostra a experiência da UAB.

O trabalho do professor de EaD é extremamente complexo e exige formação específica. Tentei compreender esta complexidade com o conceito de professor coletivo. Temos muito poucos estudos sobre o assunto, porém os que já existem mostram um maior grau de complexidade e exigências muito maiores nas equipes de EaD do que no trabalho solitário e individual do professor na sala de aula. Quase não há formações prévias para esses corpos docentes, que aprendem a fazer educação a distância, fazendo, isto é, trabalhando em equipe com outros profissionais, criando novas estratégias.

Por: Maria Luiza Belloni

Fonte: comciencia

EaD brasileira é marcada por união com meios de comunicação

Supletivos de 1º e 2º graus, auxiliar de administração de empresas, corte e costura, secretariado moderno, mecânica geral e até mesmo de mecânica de automóveis: estes eram alguns dos cursos oferecidos pelo Instituto Universal Brasileiro via correspondência. Os anúncios, que apareciam com frequência em gibis e revistas populares, eram parte de uma iniciativa de oferecer educação para os brasileiros que não podiam frequentar a escola regular. Essa seria uma iniciativa pioneira da primeira geração da educação à distância (EaD) no Brasil. “O presente, caracteriza-se pelo uso de tecnologias interativas, que priorizam os processos de comunicação, permitindo assim a interação remota entre os diversos agentes do processo ensino-aprendizagem”, explica Patrícia Lupion Torres da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR).

No entanto, de acordo com os pesquisadores Patrícia e João Vianney, da Universidade de Brasília (UnB), no capítulo “Um olhar sobre os números da educação a distância no ensino superior brasileiro”1, a história da educação a distância (EaD) no Brasil começa logo no início do século XX – em 1904 –, quando as instituições privadas ofereciam cursos técnicos por correspondência, na chamada 1ª geração da EaD brasileira. Antes de chegar no Brasil, a novidade já havia sido testada na Suécia, Estados Unidos, Inglaterra e Canadá.

“Os primeiros 80 anos da educação a distância no Brasil se desenvolveram ao ritmo de um compasso lento, tendo em vista a incipiência das políticas, no campo educacional, aliás, predominantemente extensionistas e, depois, supletivas, no campo educacional”, explica Patrícia Torres. Ela lembra, por exemplo, que o primeiro modelo se caracterizou por um processo solitário de estudo, realizado por meio de livros impressos autoexplicativos de linguagem simples. Segundo a pesquisadora, os primeiros passos firmes da EaD foram através do rádio e acabaram por ganhar corpo em 1960, com a chegada dos recursos oferecidos pela televisão. Era o início da segunda geração.
A revolução computacional caracterizou a entrada na terceira fase dos estudos feitos a distância, com a utilização das novas tecnologias de informação e comunicação (TICs), especialmente da internet. Segundo Terezinha Saraiva, coordenadora de Programas Sociais da Fundação Cesgranrio e uma estudiosa sobre educação a distância no país, o surgimento e disseminação dos meios de comunicação de massa foi paradigmático para a EaD no Brasil. “Considero como marco inicial, a criação, por Roquette Pinto, entre 1922 e 1925, da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro e de um plano sistemático de utilização educacional de radiodifusão, como forma de ampliar o acesso à educação”, conta.  A rádio, criada em 1923 por um grupo de cientistas, foi a primeira voltada para a divulgação da cultura e ciência. Depois, segundo a pesquisadora, vieram uma série de empreendimentos de sucesso, como os projetos Minerva, Saci, Logos e o Telecurso (veja quadro abaixo).

Inovador no início, o ensino a distância levava educação para recantos das cidades onde habitavam os que tinham poucas chances de ir para os bancos escolares. Mesmo assim, Patrícia Torres lembra que os diplomas recebidos por aqueles que faziam cursos por correspondência, rádio e TV eram vistos com desconfiança. “Nessa época, a EaD era vista como uma educação de segunda categoria, assim havia muitas restrições aos certificados emitidos”.
Linha do Tempo – EaD no Brasil
1904Cursos por correspondência.
1922-25Rádio Sociedade Educativa do Rio de Janeiro, por Edgard Roquette-Pinto
1939Cursos livres de iniciação profissional – Instituto Monitor
1939A Marinha utiliza ensino por correspondência
1941Criação do Instituto Universal Brasileiro
1942Reforma Capanema. Primeira legislação que reconhecia a validade dos estudos feitos a distância
1965Início das TVs educativas, gerando os telecursos
1967-74Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) inicia o Projeto Saci. –utilização de satélite doméstico para transmitir imagens
1969Televisão Educativa do Maranhão: ofereceu ensino de 5ª a 8ª séries
1970Projeto Minerva, transmitido pelo rádio MEC (ex-rádio Roquette Pinto): milhares de pessoas realizaram estudos básicos
1973Projeto Logos – de capacitação de professores leigos. Utilizava material impresso, organizado em módulos de ensino
1976Sistema Nacional de Teleducação – mantido pelo Senac
1978Telecurso 2º Grau – parceria entre a Fundação Padre Anchieta e a Fundação Roberto Marinho
1979Cursos livres na UnB – parceria com a The Open University
1989Universidade Federal de Lavras: primeira universidade a oferecer cursos de pós-graduação a distância
1990-91Programa Salto para o Futuro. Educação continuada para professores, por meio da transmissão de TV via satélite
1994Primeiro vestibular para uma licenciatura a distância, pela Universidade Federal do Mato Grosso. Início do curso aconteceu em 1995
1995Criação do LED-UFSC, laboratório que criou a metodologia e os sistemas para os primeiros cursos de especialização e de mestrado com uso de internet e videoconferência, deflagrando a universidade virtual no país.
1995Lançamento da TV Escola
1996Reconhecimento da validade da EaD para todos os níveis de ensino. Criação da Secretaria de Educação a Distância – Seed 
1999O MEC inicia o processo de Credenciamento de IES para EaD.
2005Decreto 5.622 estabelece momentos presenciais para avaliação
Fonte: Torres & Vianney, 201; Saraiva: Educação a distância no Brasil: lições de história.
Legislação

O cenário começaria a mudar na década de 1970, quando a Universidade de Brasília (UnB) firmou convênio com a inglesa Open University para a oferta de cursos livres. Mais de 20 cursos foram abertos em 1979, sendo que seis eram traduzidos do inglês. Aos poucos, os métodos de transmissão de conhecimento foram se diversificando, como tele-educação via satélite, polos semipresenciais, universidade virtual, vídeo-educação e unidades centrais.
Mesmo assim, apesar das diversas iniciativas por todo o país, a educação a distância demorou para engrenar enquanto lei. Foi somente em 1996, na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que a EaD entrou para as políticas públicas. Até então, a única aproximação era por meio de um decreto-lei de 1942, conhecido como Reforma Capanema, que validava diplomas de ensino secundários obtidos sem frequentar um estabelecimento escolar.

Em 2005, a legislação foi revista, com a inclusão que citava: “a educação a distância organiza-se segundo metodologia, gestão e avaliação peculiares” – e obriga alguns momentos presenciais para os cursos. A exigência reflete a própria sina da EaD de ser comparada com a educação regular.
Sérgio de Aguiar Monsanto, professor do Departamento de Física da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) aponta que o método também tem suas dificuldades no dia a dia. “A disciplina que leciono na Universidade Aberta do Brasil – UAB é física experimental e, embora existisse a possibilidade de utilizar bons sites com simuladores, não concordo com uma disciplina experimental realizada com simuladores. Por isso montei uma equipe com mais cinco professores que, junto comigo, também se deslocam até os polos e realizam as aulas práticas”, disse.

Baixo acesso escolar

Quando nos retemos nos dados do início do século passado, vemos uma desalentadora situação educacional brasileira: segundo o IBGE, no estudo “Estatísticas do século XX”, o país iniciou o século XX com 65,1% da população (com mais de 15 anos de idade) analfabeta. Em 1940, havia somente 3,3 milhões de estudantes nos níveis primários e secundários, equivalentes aos atuais ensinos fundamental e médio.  O número representava 21% dos 15,5 milhões de brasileiros que tinham, na época, entre 5 e 19 anos. De 1940 até 1960 o número subiria de 21% para 31%, para quase dobrar na década seguinte (58%).
As diversas iniciativas de educação a distância eram tentativas de mudar o cenário. Para Terezinha Saraiva, a EaD sempre foi concebida com uma visão reducionista. Ela acredita que não sãos os meios de transmissão que fazem a educação, mas sim a troca de conteúdo. “A educação a distância só se realiza, quando um processo de utilização garante, mais do que recepção e até troca de mensagens, uma verdadeira comunicação bilateral nitidamente educativa”, afirma.

Dados de 2010 do Ministério da Educação (MEC) apontam que atualmente a educação a distância soma 426.241 matrículas de licenciatura, 268.173 de bacharelado e 235.765 matrículas em cursos tecnológicos. Informa ainda que a média de idade dos cursos a distância é de 33 anos – enquanto os estudantes dos cursos regulares estão na faixa dos 24 anos. Para os mais velhos, explica Terezinha Saraiva, a EaD pode ajudar a solucionar alguns problemas que afetam a educação no Brasil, como a enorme extensão territorial e professores sem qualificação. Ela explica que as vantagens vão além. “Considero que a EaD tem enorme importância para a educação brasileira pela existência de milhões de jovens e adultos que não concluíram, na idade certa, seus estudos de educação básica”, diz a pesquisadora.

O último Censo, realizado em 2010, indica que 96,9% das crianças e jovens entre 7 e 14 anos estão na escola. Pelas estatísticas, o futuro educacional deles, no que concerne ao ingresso, parece estar razoavelmente resolvido. A EaD é um raro caso em que as apostas para o futuro – educação e alta tecnologia – ajudaria também a consertar erros do passado.