terça-feira, 25 de setembro de 2012

A expansão da educação a distância no mundo

A oferta de cursos online, mais recente da modalidade de educação a distância (EaD), vem se ampliando em inúmeras instituições pelo mundo. O lançamento em julho deste ano de consórcios entre instituições de ensino, como as tradicionais Universidade de Harvard e o Massachusets Institute of Technology (MIT), abre a possibilidade de alunos realizarem cursos nas melhores universidades do mundo, a um baixo custo e sem grandes deslocamentos. Os líderes desses consórcios usam em seus discursos palavras como “revolução”. Para Silvestre Novak, doutor em educação e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a expansão da EaD é um fenômeno irreversível e está provocando uma revolução nos sistema educacional brasileiro.

Esse fato reflete, em certa medida, os desafios da educação na sociedade contemporânea, “onde os paradigmas historicamente aceitos não mais dão conta para a definição de modelos pedagógicos”, afirma o pesquisador.

No entanto, a perspectiva da internacionalização das universidades não está atrelada unicamente à questão da EaD, mas também ao processo de democratização do acesso a essas tecnologias. Por vezes, as populações que mais necessitam de educação são, exatamente, aquelas com menos acesso às tecnologias. “Na área da educação é possível que os países que estão ‘exportando’ possibilidades de conhecimento e crescimento acadêmico, o ofereça por meio de programas e artefatos digitais que ainda não existam nos outros países, podendo assim dificultar e até inviabilizar o processo”, destaca Patrícia Vasconcelos Almeida, doutora em linguística aplicada e professora da Universidade Federal de Lavras (Ufla).

Diante deste desafio, busca-se atingir um novo cenário: o da mundialização, que pretende atingir outras esferas, como a política, social e educacional. “Isso significa um aprofundamento das relações internacionais, da ampliação de intercâmbios e da troca de experiências, que valorizam sobremaneira o multiculturalismo”, pontua Silvestre Novak.

Formas de ampliação

Há dois tipos de ampliação acontecendo em educação a distância, de acordo com Marcelo Buzato, professor do Instituto de Estudos de Linguagem da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) na área de linguagem, tecnologia e ensino. Uma delas está ligada à expansão e à diversificação da oferta de cursos tradicionais em formato online para atingir públicos específicos, mas ainda dentro de um modelo próximo ao da educação presencial, sobretudo no que se refere à relação entre ensino, aprendizagem, conhecimento e tecnologias. Esse é o caso de cursos de graduação de baixa interatividade, feitos à base de vídeo-aulas, com apostilas impressas e exercícios de instrução programada. “Em geral, esse modelo vem atrelado a uma estratégia de redução de custos de infraestrutura e de reaproveitamento de materiais já prontos, de autoria de docentes mais capacitados, que são usados por professores menos capacitados e de salário menor, e servem mais como aplicadores de um design institucional feito de forma mais centralizada”, explica Marcelo Buzato. Neste caso, o modelo tende a reforçar os defeitos do curso e provoca uma desconfiança indiscriminada da opinião pública com respeito à EaD, destaca.

Um segundo tipo de ampliação, mais experimental e motivado por questões conceituais e filosóficas, é aquele feito com base no modelo de abertura, os chamados open software,open scienceopen mediaopen education, com potencial para transformações na relação entre ensino, aprendizagem, conhecimento e tecnologias. Em alguns casos, pode resultar na emergência de processos qualitativamente novos e promissores, mais afinados com a chamada cultura digital, dando sustentação a espaços de afinidade e comunidades virtuais. “Esse modo de fazer EaD demanda do aprendiz outro tipo de competência para gerir sua própria formação, e, dos educadores, outro tipo de design instrucional. Permite a quem aprende se apropriar do sistema”, explica Buzato. A partir daí, uma grande variedade de práticas colaborativas seria possível na construção de percursos de aprendizagem mais personalizados, que atendem a uma gama maior de estilos e que encantam a nova geração de aprendizes.

Aumento de ofertas

Ações mais recentes procuram adaptar o conteúdo presencial ao ambiente virtual. É o caso da Khan Academy, organização fundada em 2008, sem fins lucrativos, e que tem realizado várias das ações listadas pela Coursera e edX, como a criação de ferramentas e recursos online que permitem personalizar o ensino de acordo com o ritmo individual de cada aluno. Desde 2011, alguns vídeos começaram a ser traduzidos para o português pela Fundação Lemann.
Assim, iniciativas como essa funcionam como um laboratório para entender como se dá o processo de ensino e aprendizagem online, além de ser uma importante ferramenta para melhorar e enriquecer o ensino dentro das salas de aula.

No Brasil, programas de EaD desenvolvidos por grandes instituições de ensino, como a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) trabalham o conceito de aprendizagem em rede, o que difere substantivamente do simples uso das tecnologias de informação nos processos educativos. Nessa perspectiva, o ensino online passa a ser entendido, principalmente, como uma metodologia de ensino. Mais do que uma ferramenta, este tipo de ensino passa a funcionar também como um laboratório, com potencial para transformações na relação entre ensino-aprendizagem.

O sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB), instituído em 2006 para o desenvolvimento da modalidade de EaD, busca expandir e interiorizar a oferta de cursos e programas de educação superior no país. Segundo dados oficiais da instituição, de julho de 2007 a 2009 foram instalados 557 polos de apoio presencial, com 187.154 vagas criadas. Além de fomentar a EaD nas instituições públicas de ensino superior, a UAB apoia pesquisas em metodologias de ensino superior respaldadas em tecnologias de informação e comunicação.

A Universidade Virtual do Estado de São Paulo (Univesp), por sua vez, também busca consolidar a utilização das tecnologias da comunicação e da informação no ensino superior. Os cursos atualmente oferecidos são semipresenciais, mesclando aulas presenciais com recursos tecnológicos característicos da educação a distância, como plataformas virtuais de aprendizagem e televisão. A Univesp é a quarta universidade estadual paulista, instituída pela Lei 14.836, de 20 de julho deste ano, devendo atingir a marca de 24 mil alunos em quatro anos.

Ampliação é sinônimo de revolução?

Buzato, da Unicamp, pondera que, como aconteceu com toda nova tecnologia na educação (a exemplo da lousa, do rádio, do cinema, da televisão), essa “nova” educação a distância, apoiada nas redes digitais, abre uma série de possibilidades que parecem atender aos mais diversos anseios. “Não acredito em revolução”, esclarece o pesquisador, “prefiro, pensar em um processo continuo pelo qual duas coisas, ou seja, sociedade e tecnologia, que são igualmente heterogêneas, cheias de controvérsias internas e de interesses em conflito, se transformam em uma coisa só, em associações de elementos que vão redefinindo-se uns aos outros e, com isso, gerando certos efeitos globais e locais.”.

Já para a linguista da Ufla “toda forma de oferecer e buscar conhecimento é revolucionária”. Ela acredita que inúmeras atitudes e escolhas educativas revolucionaram, e ainda revolucionam, o contexto de ensino-aprendizagem a cada dia.

No que diz respeito a universidades brasileiras que se dispõem a oferecer cursos online, muitos problemas ainda são enfrentados. “Ainda temos muito poucos profissionais realmente capacitados para atuar. Estamos todos, coordenadores, auxiliares, técnicos em tecnologia, professores-formadores, tutores e cursistas, aprendendo a formatar e fazer os cursos online funcionarem com a qualidade que se faz necessária. É neste ponto que penso que a revolução está. Em se aprender a ensinar e a como aprender neste contexto educacional”, elucida Patrícia.

Por: Maria Teresa Manfredo

Fonte: comciencia

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

No Brasil, crescimento recente, problemas antigos

Segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), em 2010, um contingente de 144.553 pessoas concluíram cursos de graduação a distância no Brasil. Elas lotariam um estádio quatro vezes maior que o do Pacaembu, na cidade de São Paulo. Os 930 cursos que as abrigavam representam o lado da educação a distância (EaD) mais visível atualmente no Brasil, a graduação.

Mas a EaD no país também conta com cursos nos níveis fundamental e médio e na pós-graduação. Segundo a sinopse estatística da educação básica, do Inep, em 2011, foram registradas 435.595 matrículas na educação de jovens e adultos (EJA) em cursos semipresenciais, 54% delas no ensino médio. Comparado com os cursos presenciais, esse número é oito vezes menor, revelando que nesses níveis, a EaD ainda não tem tantos adeptos. Somente em 2011, foram registradas quase quatro milhões de matrículas de jovens e adultos em cursos presenciais, com apenas um terço delas no ensino médio (1.322.422). A lacuna ainda é muito grande, visto que o Brasil, segundo dados de 2009 da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), tem uma população de 57,7 milhões de pessoas com mais de 18 anos que não frequenta a escola e não tem o ensino fundamental completo. Portanto, são necessárias políticas que estimulem a ampliação da oferta de EJA por meio de EaD, uma alternativa para jovens e adultos conciliarem trabalho e estudo.

As entidades sociais da indústria e do comércio têm desempenhado um papel importante nesse contexto. O Serviço Social da Indústria (Sesi) oferece cursos a distância de ensino fundamental e de ensino médio direcionados a jovens e adultos. O Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) oferece cerca de 300 opções de cursos a distância em mais de 20 áreas tecnológicas, desde a formação inicial e continuada até a pós-graduação; além disso, mantém em todo o Brasil cursos a distância de atualização profissional. No Instituto Euvaldo Lodi (IEL), os cursos a distância são para capacitação de empresários. No Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), um dos pioneiros em pós-graduação a distância, a EaD é praticada por meio de cursos formais, da educação básica ao nível superior, e através de teleconferências e do programa radiofônico Sintonia Sesc-Senac. Somente em 2010, foram oferecidos 102 cursos, que receberam mais de 37 mil matrículas.

A história da EaD no Brasil remonta aos anos 1920, com as atividades pioneiras de utilização da radiodifusão, por meio da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro (vejareportagem sobre o assunto). Mas, somente em maio de 1996, foi criada no Ministério da Educação ( MEC) a Secretaria de Educação a Distância (SEED). Seu objetivo principal era atuar como agente de inovação tecnológica nos processos de ensino e aprendizagem, fomentar a incorporação das tecnologias de informação e comunicação e das técnicas de educação a distância aos métodos didático-pedagógicos. Extinta em 2011, os programas e ações da SEED passaram para a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (Secadi). Segundo o MEC, com o crescimento da EaD no Brasil, ela passou a ser gerida pelas secretarias convencionais, recebendo o mesmo tratamento que as modalidades presenciais.

Mais de 50% dos cursos de graduação a distância são oferecidos por instituições privadas. As universidades públicas que oferecem cursos de nível superior a distância estão integradas ao Sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB). Instituído em 2006, o sistema UAB funciona como articulador entre as instituições de ensino superior e os governos estaduais e municipais, para atender às demandas locais. O MEC coordena também o sistema Rede e-Tec Brasil, de oferta de educação profissional e tecnológica a distância por meio de cursos técnicos de nível médio, públicos e gratuitos, em regime de colaboração entre União, estados, Distrito Federal e municípios.
Em São Paulo, foi criada em 2008 a Universidade Virtual do Estado de São Paulo (Univesp), que oferece cursos semipresenciais e virtuais, como já vem sendo praticado em países como França, Inglaterra e México. Trata-se de uma articulação da Secretaria de Ensino Superior do Estado de São Paulo com as universidades estaduais paulistas e com o Centro Paula Souza, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de São Paulo (Fapesp), da Fundação do Desenvolvimento Administrativo Paulista (Fundap) e da Fundação Padre Anchieta.

Crescimento recente

De acordo com o MEC, os cursos superiores oferecidos a distância atingem mais de 30% dos 5.561 municípios brasileiros. Tomando-se por base o ano de 2010, constata-se que 14,6% das matrículas na graduação foram em cursos a distância. Dessas, 80,5%, ou seja, 748.577 foram feitas em instituições privadas. Em dez anos, o número de matrículas em EaD cresceu de forma impressionante, passando de 5.359, em 2001, para 930.179, em 2010. No mesmo período, a matrícula em cursos presenciais cresceu 80%.



Evolução do número de matrículas em cursos de graduação, de 2001 a 2010. Fonte: MEC/Inep.

Mas o perfil do aluno de cursos de graduação a distância é diferente daquele que opta por curso presencial. A média de idade de ingresso nos cursos presenciais é de 19 anos, e nos cursos a distância, sobe para 28 anos. E a média de idade dos concluintes nos cursos presenciais é de 23 anos, enquanto nos cursos a distância é de 31 anos. Outra diferença entre graduação a distância e presencial está na distribuição do número de matrículas por grau acadêmico. Em 2010, na formação presencial, três em cada quatro matrículas foram em cursos de bacharelado, enquanto na EaD predominam matrículas nas licenciaturas. Na estratificação das carreiras, as diferenças são ainda maiores. Mais de 77% dos concluintes de 2010 na graduação a distância são egressos de cursos nas áreas de educação (49,7%) e de gerenciamento e administração (27,6%). Nos cursos de graduação presenciais, essas áreas juntas formaram menos de 40% do total de concluintes em 2010.

A regulação de todos os cursos superiores a distância segue dinâmica semelhante àquela que acontece com os cursos presenciais. No Brasil, as bases legais para a modalidade de EaD foram estabelecidas pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 1996. Entretanto, embora responsável pelo credenciamento, o MEC não avalia cursos superiores a distância. Mantém apenas o Sistema de Consulta de Instituições Credenciadas para Educação a Distância e Polos de Apoio Presencial (Siead), no qual é possível verificar a regularidade da instituição.

Tentando preencher a lacuna, a Associação Brasileira dos Estudantes de Ensino a Distância (Abe-EaD) realiza periodicamente uma pesquisa para avaliar o nível de satisfação de estudantes de cursos superiores a distância. Na última pesquisa divulgada, foram ouvidos 16.200 alunos da graduação de 67 instituições privadas de vários estados. No topo da lista, com nota máxima, classificadas como plenamente satisfatórias, aparecem cinco instituições de São Paulo, três do Paraná, duas de Santa Catarina, uma do Rio de Janeiro, uma de Minas Gerais e uma do Distrito Federal.

Problemas antigos

A expansão do ensino superior como um todo no Brasil segue uma tendência mundial, que se deve principalmente ao aumento da demanda social, particularmente por aqueles que querem fazer parte da emergente sociedade do conhecimento, e à necessidade econômica crescente de contratar pessoas qualificadas. Paralelamente, com a inserção cada vez maior de tecnologias de informação e comunicação (TIC), verifica-se o crescimento acentuado da EaD em cursos superiores. Para Nelson Pretto, professor da Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia (UFBA), na medida em que equipamentos digitais vão sendo incorporados à vida cotidiana de cada cidadão e, de forma quase automática, no seu exercício profissional, é natural que seja incorporado também às atividades do professor e do aluno: “Não podemos cercear seu uso”, avalia. Mas as tecnologias digitais são meras ferramentas auxiliares dos processos educacionais, acrescenta. Nelson Pretto salienta que, com o desenvolvimento acelerado das TIC, pode-se estimar que muito em breve a distância entre e EaD e a educação presencial diminua, por meio da inserção dessas tecnologias nos processos de ensino-aprendizagem em geral, seja em curso presencial ou a distância.

Raquel Goulart Barreto, professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), considera que a valorização das TIC, em si, na maioria das vezes acoplada à defesa da atratividade, se insere no movimento de variar os instrumentos mantendo-se as mesmas e velhas práticas pedagógicas. Assim, a perspectiva da “modernização” pode significar a repetição de ações que eram desenvolvidas com lápis e papel. Segundo ela, o que pode ficar de fora é justamente o conjunto de possibilidades pedagógicas a que remetem os novos meios digitais. Para Barreto, é fundamental superar a reificação das TIC e seus desdobramentos, como a noção de inclusão digital, notadamente quando associada à inclusão social. “Os objetos técnicos, em si, não determinam formas de apropriação pedagógica”, pondera. E acrescenta: “Textos multimidiáticos não são mais fáceis porque tecidos por palavras, imagens, sons etc. A articulação dessas linguagens é uma questão complexa a ser enfrentada quando se trata de crítica e criatividade”.

Na EaD, e em particular na graduação a distância, uma das críticas é o risco de esvaziamento do trabalho docente, reduzido à realização de tarefas predefinidas, comprometendo a sua autonomia pedagógica. Barreto considera que se as TIC são acompanhadas por cartilhas e materiais semelhantes, a questão de fundo é política: “Tem-se um movimento que começa com parâmetros e diretrizes nacionais e culmina com instrumentos de avaliação unificada”. Ela salienta que, desde as primeiras iniciativas de incorporação educacional das TIC, a formação de professores a distância esteve no centro: “Na medida em que a formação dita presencial ficou em segundo plano, a perspectiva da substituição tecnológica atingiu também as práticas pedagógicas na escola básica”.

Com a expansão da EaD e a transformação de professores e alunos em “consumidores” de materiais prontos, como aulas gravadas, as avaliações unificadas provavelmente apresentarão melhores resultados. Mas Barreto considera que isso não representa diferenças qualitativas nas práticas pedagógicas. “Esta tem sido a opção política no Brasil, de padronizar os procedimentos para os resultados esperados, esvaziando e precarizando o trabalho docente, nas condições concretas em que é produzido”, reforça.

Nelson Pretto considera a EaD fundamental, mas diz que são necessários cuidados para impedir a proliferação de instituições e de cursos de baixa qualidade. “Não basta disponibilizar textos em pdf e recolher respostas em questionários automatizados, prática que tem sido comum tanto em cursos presenciais quanto a distância”. São necessárias condições apropriadas tanto em termos estruturais quanto na capacitação dos docentes. Para ele, os polos de atendimento devem ser efetivamente unidades universitárias, com bibliotecas, computadores, impressoras, conexão rápida. “Não devem ser apenas unidades de apoio, um posto de serviço”, acresenta. O professor da UFBA aponta vários gargalos na EaD, que são os mesmos da educação presencial. Segundo ele, a questão salarial persiste, mas não é o único problema. “Enquanto não dermos condições de trabalho, salários decentes desde a educação básica, e formação continuada, não se pode esperar grandes mudanças apenas porque passamos a utilizar TIC”. Defensor ardoroso da adoção de tecnologias digitais em todos os níveis e em todas as modalidades de ensino, Pretto salienta que a educação com TIC será fortalecida se tiver professor prestigiado e com condições de trabalho.

Por: Leonor Assad

Fonte: comciencia

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

O professor e a sala de aula virtual: as novas relações no ensino

A educação a distância (EaD) já é uma realidade consolidada no mundo atual e trouxe transformações no processo de ensino-aprendizagem que ainda estão em debate. Uma delas diz respeito ao novo papel exigido do professor que trabalha com EaD, muitas vezes nomeado como tutor virtual. A antiga posição de um professor que se considerava o centro do saber e de alunos que recebiam o conteúdo passivamente não funciona mais. Com a facilidade de acesso à informação que a internet possibilita, talvez o maior desafio para o professor de EaD (e também para o do ensino presencial) seja auxiliar a pensar e selecionar o montante de informação disponível. “ Hoje, o professor interage com os alunos e ambos são emissores e receptores, estabelecendo uma relação de troca, de cooperação, de construção em comum”, afirma Liane Tarouco, no artigo “O professor e os alunos como protagonistas na educação aberta e a distância mediada por computador”.

Embora essa nova função do professor como mediador já tenha sido problematizada pelos pedagogos, antes mesmo da expansão da EaD, foi essa nova modalidade de ensino que a reforçou, segundo Denise Lima e Abreu, coordenadora da Universidade Aberta do Brasil na Universidade Federal de São Carlos (UAB-UFSCar) e professora dos cursos de formação em tutoria virtual e de professores em EaD. “Com o ensino a distância, torna-se necessária a constante interação entre professores junto aos estudantes, principalmente motivando-os a vencer os obstáculos naturais referentes ao processo de se aprender de forma assíncrona (ou seja, cada estudante em seu tempo)”, ressalta.

Uma das grandes novidades da EaD é o trabalho fragmentado e dependente de vários profissionais. Daniel Mill, professor adjunto da UFSCar e especialista em estudos de gestão estratégica em EaD, e Fernando Fidalgo, diretor do Centro de Apoio à EaD da Universidade Federal de Minas Gerais, nomeiam esse processo de polidocência. No artigo “Sobre tutoria virtual na educação a distância: caracterizando o teletrabalho docente”, os autores observam que o trabalho em EaD envolve docentes e não-docentes para dar conta da complexidade da aula nessa modalidade e da quantidade de alunos. “Na educação a distância, não há a opção de um único profissional realizar toda a ‘aula’ porque, via de regra, a quantidade de alunos ou a complexidade do processo de trabalho impossibilita a ‘unidocência’”, afirmam.

O professor que trabalha com EaD costuma ser identificado como tutor virtual, tutor eletrônico, tutor online ou animador. Ele é um dos profissionais que compõem a polidocência e é o responsável pelo contato online com os alunos, atuando como mediador e facilitador do processo de ensino-aprendizagem. Segundo Mill e Fidalgo, o tutor que atua nos encontros presenciais com os alunos é o tutor presencial, e o que os acompanha à distância, tendo seu trabalho mediado pelas tecnologias de informação e comunicação, é o tutor virtual. Este último não é propriamente um professor como o de cursos totalmente presenciais. Além dos tutores, a estrutura dos profissionais de um curso de EaD envolve os programadores, gestores, coordenadores do curso, professores autores do material didático e coordenadores de tutores. Segundo Lima e Abreu, o coordenador de tutoria, que realiza a intermediação entre professores-autores, gestores e tutores, é essencial no processo de gestão da EaD para garantia da qualidade no processo de ensino-aprendizagem.

Um exemplo do trabalho compartilhado a partir do conceito de polidocência acontece no Programa Rede São Paulo de Formação Docente – Redefor, iniciado em 2011 e já na sua segunda edição. O programa, que oferece especialização para professores da rede pública do estado de São Paulo, é resultado de uma política de formação continuada oferecida pela Secretaria da Educação do Estado de São Paulo em convênio com as universidades públicas paulistas: Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e Universidade Estadual Paulista (Unesp). São 16 cursos de especialização com duração de um ano: 13 nas disciplinas do currículo escolar (como língua portuguesa, educação física, matemática, entre outras) e 3 voltados para gestão. Os cursos do Redefor são todos a distância, mas exigem alguns encontros e provas presenciais.

“Os trabalhos são compartilhados a partir do conceito de polidocência: a disciplina não é exclusiva do professor-autor, nem é simplesmente o cumprimento de tarefas por parte dos tutores. Na prática, o sistema aproxima-se dos modelos presenciais, quando a tarefa da coordenação é organizar a equipe, debater e estabelecer princípios e objetivos centrais do curso e assegurar que os participantes se envolvam no projeto”, explica José Alves Freitas Neto, professor da Unicamp e coordenador da disciplina de história do Redefor. “Portanto, a coordenadoria exerce uma tarefa de planejamento e acompanhamento das atividades; os professores-autores são formuladores de textos e dão o suporte teórico para o curso; enquanto os tutores, em suas salas e diante das peculiaridades de cada turma, atuam no esclarecimento, no aprofundamento e na complementação de informações oferecidas pelo material do curso”, acrescenta. Ele conclui, ainda, que a importância dessa divisão é que todos são partícipes de um processo em larga escala.

“O segredo de um curso a distância é a atuação do tutor”

A capacidade de interação, a clareza na explicação das tarefas, a animação dos debates da disciplina e até mesmo a assistência emocional aos educandos são qualidades descritas como relevantes para a atuação do tutor virtual, que é peça-chave para o bom funcionamento do curso a distância. “Sempre penso que o segredo de um curso é a atuação do tutor, pois ele é capaz de potencializar os conteúdos e propostas de atividades. O inverso também ocorre: ser capaz de minar um material que poderia gerar novos conhecimentos e grandes descobertas por parte dos cursistas”, afirma Freitas Neto. Além disso, o professor da Unicamp ressalta que o tutor não é apenas aquele que operacionaliza a máquina para disponibilizar os materiais do curso, mas alguém que deve desenvolver um ambiente de aprendizagem pautado na liberdade para que todos se sintam à vontade para compartilhar experiências. O curso atinge seu objetivo quando a troca de conhecimentos acontece entre cursistas e tutor, mas, sobretudo entre os próprios cursistas.
Para Lima e Abreu, de todas as habilidades exigidas de um tutor virtual, a mais relevante é saber trabalhar em equipe. “Ele deve ter facilidade em gerenciar grupos. Pensar no coletivo e estar sintonizado com as necessidades dos estudantes de forma a atualizar suas aulas a cada oferta. Com certeza, a maior diferença entre as duas modalidades (presencial e a distância), entre todas que poderíamos citar, é a de saber trabalhar em equipe”, afirmam.

Mudança no papel do aluno

Na relação professor-aluno em EaD, não é apenas o papel do professor/tutor que muda, mas também o do aluno/cursista. “Ele tem maior autonomia, logo necessita ter maior responsabilidade para organizar seu tempo, a execução de suas atividades e a desinibição no ambiente virtual. Curso a distância não é curso por correspondência: as trocas têm que ser efetivas e ocorrer a todo instante”, afirma Freitas Neto.

Dentre as dificuldades gerais dos cursistas de EaD estão a pouca experiência no mundo virtual e o excesso de postagens nas discussões promovidas nos fóruns, que podem resultar na perda do sentido do debate, aponta Adolfo Tanzi, especialista em produção e gestão de material didático para EaD e tutor online em língua portuguesa do programa Redefor. “Muitas vezes, os cursistas sofrem para se adequarem às exigências de um curso em EAD. Um exemplo seriam os fóruns de discussões: pela manhã, o cursista tem 10 

O plágio é outro problema recorrente, facilitado pelas tecnologias de informação e comunicação. No entanto, observa-se que ele não é exclusivo dessa modalidade de ensino a distância, pois, no passado, os alunos também tinham a prática de copiar textos de enciclopédias, por exemplo. Uma saída para essa dificuldade está em trabalhar com os alunos a importância da ética nos trabalhos acadêmicos. “O que acontece é que hoje, com a tecnologia e o acesso à informação, isso ficou mais evidente. Precisamos letrar nossos alunos para que usem as citações devidamente e que tenham uma postura correta com a sua própria aprendizagem”, observa Tanzi.postagens, e ao chegar do trabalho, no final do dia, tem mais 300. O aluno tem que participar de uma conversa que às vezes já está esgotada ou em que ele perdeu o fio condutor. Mas se ele não escreve, é entendido que não está participando. Sendo assim, muitas postagens se repetem como se estivéssemos em um quarto escuro onde o que eu falo e o que falam tem que ser repetido inúmeras vezes”, ilustra.

O curso a distância exige habilidade na escrita, pois é por meio dela que toda a comunicação ocorre, tanto nas dúvidas que o cursista envia ao tutor por e-mail e nos debates em fóruns com os colegas, quanto nos trabalhos das disciplinas. Por isso, nos casos de cursos de formação continuada para professores, cuja prática na sala de aula se baseia na oralidade para a transmissão do conhecimento, a escrita pode ser uma dificuldade. “Na sala de aula, eles praticam mais a oralidade do que a escrita. Corrigem mais do que escrevem e, quando o papel se inverte, têm grande dificuldade. E isso não se deve, como seria simples supor, a uma formação precária. Mas acho que, principalmente, a uma falta de treino, de prática. Quem fica anos sem escrever um texto mais longo, certamente enfrenta dificuldade para ordenar e expressar claramente suas ideias”, observa Freitas Neto.
As transformações produzidas pela EaD no processo de ensino-aprendizagem exigem ainda pesquisas na área para melhor compreensão dessas mudanças. “Temos muito que caminhar. Os cursos em EaD estão baseados em disciplinas, tempo-duração e avaliações exatamente como o que acontece no ensino presencial. Se quisermos dar o primeiro passo à frente, teremos que quebrar muitos tabus de como esses cursos estão estruturados hoje e entender que a aprendizagem nos meios digitais se dá de forma diferente. A simples transposição didática do meio presencial para o digital não é suficiente”, conclui Tanzi.

Por: Marcela Marrafon de Oliveira

Fonte: comciencia

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

A Univesp e as tecnologias para a educação

O ensino superior e as tecnologias de informação e comunicação

Desde 2007, temos trabalhado, com uma pequena equipe, em que se destacam os professores Waldomiro Loyolla , Marcio Andrade Netto e o administrador público Cláudio Falcone, junto ao governo do estado de São Paulo, no projeto da Univesp. Primeiro, como programa, depois, consolidando a sua institucionalização, como a quarta universidade pública gratuita de nosso estado, a Univesp vem oferecendo, em parceria com as universidades estaduais e com o Centro Paula Souza, cursos de graduação, pós-graduação e extensão com metodologias de ensino baseadas no uso intensivo das novas tecnologias de informação e comunicação ( TICs). Com a autonomia didático-científica adquirida por força da Lei 14.836, de 20 de julho de 2012, que institui a nova universidade sob a forma de fundação, a Univesp passará também a poder oferecer cursos próprios.

O uso das tecnologias de informação e comunicação tem permeado o moderno ensino superior oferecido nas grandes universidades do mundo. Instituições internacionalmente famosas como Harvard, MIT, Stanford, Purdue e Duke já oferecem todos os seus cursos em formato digital. Em muitas universidades já não se distingue mais o ensino presencial do on line, uma vez que a cada momento o aluno pode escolher qual a componente que melhor lhe convém. A tendência geral é que, em curto prazo, nessas universidades não se diferencie mais o que sejam cursos on line de cursos presenciais, mas que sejam cursos ministrados de forma mediada pela tecnologia. De acordo com o teórico de negócios americano Clayton Christensen, até ao ano de 2017, metade das aulas do mundo deverão ser ministradas de forma remota e mediada por tecnologia. O grande desafio é o desenvolvimento de novas metodologias educacionais que efetivamente usem a tecnologia de forma criativa e produtiva e não apenas mimetizando as metodologias tradicionalmente usadas nas universidades onde predominam os cursos presenciais.

A Univesp

O conceito fundamental sobre o qual se assenta o projeto da quarta universidade pública do estado de São Paulo, na forma da Fundação Univesp, é o do conhecimento como bem público. A Univesp faz uso intensivo das novas tecnologias de informação e de comunicação para promover a evolução social do estado, possibilitando a universalização do acesso ao ensino superior público e a universalização do acesso ao conhecimento na sociedade digital. É a tecnologia a serviço da educação e da cidadania, levando a educação de qualidade em todos os níveis para todas as regiões e municípios do estado.

Tais objetivos são desenvolvidos a partir da oferta de vagas de graduação e de pós-graduação, na educação formal; e, na educação para a cidadania, na forma de cursos de extensão, de atualização e de educação continuada. A Univesp ministrará, ela própria, ou de forma consorciada com outras instituições de ensino, os cursos necessários visando à formação e ao aperfeiçoamento dos recursos humanos para prover o acesso ao conhecimento como bem público em todos os municípios do estado.

No aspecto da educação formal propõe-se o estabelecimento de uma política que, continuadamente, promova a ampliação da oferta de educação pública superior, em dois eixos complementares. O primeiro eixo corresponde ao aumento do número de cursos e de vagas públicas ofertadas à população. O segundo eixo corresponde à ampliação da abrangência geográfica da oferta de cursos públicos, de forma a prover educação superior em regiões não atendidas pelas universidades estaduais, sem ficar vinculado aos tradicionais padrões de implantação de campi universitários. Com isso, além de atender cidadãos de todos os municípios do estado, os cursos ofertados através da Univesp atuarão como indutores de desenvolvimento regional.

A Univesp servirá também como apoio acadêmico para diversas ações do Estado, desenvolvendo projetos em parceria com as secretarias estaduais e outras instituições públicas, por exemplo, suprindo demandas específicas de formação, especialização e atualização de professores da rede estadual.

Nos aspectos social e cultural, a Univesp servirá como instrumento de uma política que, continuadamente, promova a educação para o exercício da cidadania, ao agregar possibilidades de criação de novos programas de integração social desenvolvidos com o lastro de uma instituição de ensino de qualidade. Tais iniciativas abrangerão não somente a inclusão digital de parte da população, como também o desenvolvimento de apoio acadêmico a programas de formação profissional para a inserção no mercado de trabalho, para a readaptação daqueles que foram desalojados profissionalmente pelas novas tecnologias ou mesmo para a geração de renda, o empreendedorismo e a geração de novos negócios.

Nesse contexto, a Univesp contribuirá com o Ensino de Jovens e Adultos – EJA e com o programa Via Rápida do Emprego, do governo do estado de São Paulo, dando suporte à oferta de educação profissionalizante de qualidade para todas as regiões do estado. Além disso, a Univesp permitirá levar o conhecimento e a capacitação profissional para detentos em todo o estado, promovendo a inclusão social dessa parcela da população.

A concepção acadêmico-administrativa da Univesp privilegia um modelo organizacional de pequeno porte corporativo (reduzido quadro permanente) mas moderno e de grande porte nos aspectos acadêmico, didático e social, ao produzir cursos, obras de referência e materiais didáticos especificamente para a oferta de vagas com grande distribuição geográfica e grande alcance social através das tecnologias de informação e comunicação. Esse conjunto de características permite o desenvolvimento de pesquisas e a criação e oferta de cursos geridos como projetos. Neste modelo de gestão, a pesquisa e o curso (graduação, pós e extensão) existem pelo tempo necessário para cumprir os objetivos e as metas sociais estabelecidas no projeto. O pessoal acadêmico e técnico envolvido em cada projeto deverá ser contratado especificamente para o projeto em que participe.

Desse modo, a Univesp, emparelhada com as melhores tendências educacionais identificadas em todo o mundo, como entidade educacional ativa do estado de São Paulo, virá contribuir de forma consistente para o atendimento da demanda por vagas no ensino superior público e gratuito, levando a universidade ao aluno nas mais diversas regiões, e trazendo o estudante, antes nelas isolado, para a possibilidade real de integrar-se, pela universidade, às novas perspectivas profissionais abertas pelos cursos que lhe serão ofertados.

Em resumo:
  • A Univesp deverá fazer intenso uso de tecnologias de informação e comunicação na educação, ampliando o acesso ao ensino superior público e à formação profissional, de forma a atender às necessidades de recursos humanos qualificados e garantir a distribuição geográfica da oferta de cursos.
  • A Univesp ampliará a distribuição geográfica das vagas para atingir os rincões do estado e inserir a população dessas regiões no ensino superior. Como consequência minimizará as dificuldades econômicas, familiares e sociais dos alunos.
  • A Univesp deverá contribuir sistematicamente para suprir as necessidades de professores para o ensino fundamental e médio do estado.
  • A Univesp deverá formar novos profissionais de nível superior, além de atualizar ou especializar outros. As áreas do saber serão coerentes com necessidades microrregionais ou mais gerais para atender interesses sociais e econômicos do estado.
  • A Univesp deverá dedicar-se prioritariamente à pesquisa e formação de pesquisadores em áreas relativas ao uso de novas tecnologias na educação. (Ex. Desenvolver métodos para o uso de TICs no ensino de histologia otimizando o aproveitamento dos alunos nessa trabalhosa matéria.
  • A Univesp deverá dedicar-se à oferta de cursos de pós-graduação lato e stricto sensu para a formação especializada de professores de cursos de engenharia, como já vem sendo trabalhado em cooperação com a Escola Politécnica da USP.
Formação profissional integrada

A estrutura dos cursos de formação profissional da Univesp se estabelece por “eixos profissionais”. Isso permite que os alunos tenham uma formação integrada de tal maneira que possam, sequencial ou paralelamente, ampliar seus estudos e obter novas certificações, estendendo dessa forma o conceito de educação continuada.
Dentro de um mesmo eixo profissional os cursos se apresentam com um núcleo de formação básica e, a seguir, com alternativas de trilhas profissionais correlatas de modo a permitir a seus alunos a escolha de uma ou mais habilitações profissionais nesse eixo. Assim, após a conclusão de uma saída profissional, o aluno poderá dedicar-se, pela escolha de uma nova trilha, à obtenção de um novo diploma de graduação, com aproveitamento total das disciplinas do núcleo básico comum.
Como exemplos dessa concepção integrada da estrutura dos cursos a serem oferecidos, podem-se citar:
  • Formação de profissionais para a área de indústria, comércio e serviços, no eixo de informática, com um núcleo básico e comum nos primeiros anos seguido, nos anos subsequentes, de alternativas de saídas profissionais, à escolha do aluno, para: comércio eletrônico, segurança da informação, desenvolvimento de sistemas, sistemas de informação, entre outras.
  • Formação de professores no eixo de linguagens e humanidades, com um núcleo básico e comum nos primeiros anos composto por linguística, teoria literária, filosofia e ciências sociais e, nos anos seguintes, escolher uma dentre as possíveis trilhas cuja saída profissional seja português, língua e literatura, economia, sociologia, antropologia, filosofia, história, geografia, entre outras.
  • Formação de professores no eixo de ciências, com um núcleo básico e comum nos primeiros anos seguido, nos anos subsequentes, de alternativas de saídas profissionais, à escolha do aluno, para: licenciatura em ciências, em matemática, em física, em química ou em biologia.
A oportunidade aberta por esta concepção é, portanto, a de que o graduado, num determinado eixo profissional possa, dentro dele, obter, com pleno aproveitamento das disciplinas do núcleo comum, mais de um diploma para o exercício de sua vida profissional.

Revista Pré-Univesp

Ainda no âmbito de oferta de educação para a cidadania, houve o desenvolvimento daPré-Univesp – revista digital de apoio ao estudante pré-universitário. O conteúdo daPré-Univesp, que é temático e mensal, está focado nos grandes assuntos da atualidade, presentes também na matriz curricular do ensino médio e nas questões das provas de ingresso à universidade. O objetivo da publicação é trazer conteúdo de qualidade e agradável voltado ao público pré-vestibulando, lançando mão de diversas mídias cabíveis na internet. O acesso ao conteúdo integral da revista é gratuito e o usuário pode se cadastrar e criar seu próprio arquivo de textos. Os assuntos são abordados de forma moderna e ágil, levando ao estudante os conteúdos através de reportagens instigantes, artigos e entrevistas, que são complementados por vídeos, animações e infográficos, com linguagem motivadora para a juventude e por ela facilmente absorvida.

Univesp TV

Por fim, destaca-se como importante realização da Univesp, em parceria com a Fundação Padre Anchieta, a instalação e entrada em operação regular, da Univesp TV. Trata-se de um canal digital aberto, exclusivamente dedicado às finalidades educacionais, científicas e culturais da nova universidade, que dá apoio aos cursos em andamento e oferece conteúdos de qualidade para a sociedade de uma forma geral. A Univesp TV é o canal 2.2 da multiprogramação TV Cultura, no ar desde agosto de 2008, com emissão das 8 às 24 horas, tendo produzido quase 1000 horas de programas  entre os de apoio aos cursos formais e os que são oferecidos na linha do conhecimento como bem público que, até agora, no Youtube, têm apresentado um desempenho perto da marca de 3 milhões de visualizações.

Por Carlos Vogt

Fonte: comciencia

domingo, 16 de setembro de 2012

A ceitação à EaD no mercado de trabalho é cada vez maior

“A educação a distância deixou de ser tendência e hoje é uma lógica em todos os níveis de ensino”, afirma Tiago Sereza, gerente de integração da Catho Educação, ligada ao site de classificados de currículos e vagas de emprego de mesmo nome, que está entre os de maior audiência da América Latina nesse segmento. Segundo Sereza, o mercado de trabalho brasileiro não faz diferenciação entre candidatos formados por cursos presenciais ou a distância: “O que realmente importa é o conhecimento obtido e a aplicação no dia a dia e não a forma utilizada para obter esse conhecimento”, defende. Fredric Litto, presidente da Associação Brasileira de Educação a Distância (Abed), assume praticamente o mesmo discurso, mas com ressalvas: “Aos poucos, o clima está melhorando. Não está perfeito, mas muita gente reconhece os valores da educação a distância”, avalia.

Determinação, independência, organização e motivação são alguns dos atributos citados tanto por Litto quanto por Ricardo Holz, presidente da Associação Brasileira dos Estudantes de Educação a Distância (Abe-Ead), quando se referem aos requisitos para o aluno de EaD ter sucesso em sua formação. Segundo ambos, são características imprescindíveis ao aluno e muito valorizadas no candidato a uma vaga de emprego. Sereza, da Catho, confirma: “Muitas empresas conseguem visualizar no aluno que participa desse modelo de curso (a distância) grandes diferenciais”.

Holz, da Abe-Ead, tem vasta experiência no assunto. Ele terminou o ensino médio por meio do Telecurso 2000, uma parceria da Fundação Roberto Marinho com prefeituras, governos estaduais e entidades privadas, como a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), para complementar, via TV, a educação de quem precisou abandonar os estudos. Depois, Holz fez graduação em gestão pública e MBA na mesma área, ambos os cursos por EaD e na mesma instituição, a Fundação Getúlio Vargas (FGV). Nesse meio tempo, ajudou a fundar a Abe-Ead e abriu uma empresa de consultoria no uso da tecnologia na educação.

“Tenho muito nítido na minha cabeça que eu devo isso à educação, e especialmente à educação a distância”, afirma Holz, que tem viajado por diversos países a fim de conhecer os modelos internacionais de EaD. O modelo brasileiro está bastante avançado, ele garante, mas a principal resistência vem de dentro da academia: “Aqui no Brasil, o MEC (Ministério da Educação) proíbe cursos totalmente online; as avaliações têm que ser presenciais. E eu não estou dizendo que o Brasil está preparado para ter avaliações virtuais, por exemplo, mas essa diferença você percebe nitidamente – lá fora (no exterior), as universidades têm uma liberdade maior sobre como trabalhar o conteúdo. Aqui no Brasil, existe ainda um pouco de receio”.

Segundo o censo do MEC sobre ensino superior realizado em 2010, cerca de 1 milhão de pessoas estudam à distância no Brasil. Enquanto os cursos de graduação presenciais têm um predomínio de matrículas em bacharelados, a maior parte dos alunos de EaD está matriculada em cursos de licenciatura. O percentual de alunos em cursos tecnológicos de EaD também é muito superior à fatia que esse tipo de formação representa no total de cursos presenciais de graduação.

 
O Censo EaD.BR – Relatório Analítico da Aprendizagem a Distância no Brasil, realizado anualmente pela Abed, traz dados mais específicos: das matrículas feitas em 2010 em cursos de EaD, 79,5% foram em cursos de graduação, 11,9% em pós-graduação e o restante em educação de jovens e adultos (EJA), em cursos técnicos e outras modalidades de ensino básico. Segundo esse relatório, as instituições privadas predominam no ensino a distância, com 71,9% do total de matrículas. A região Sudeste também concentra a maioria dos alunos matriculados em EaD, com 71% do total.

O estado de São Paulo é o que mais tem cursos em EaD credenciados pelo MEC: são 122 no total, em 268 municípios. Em seguida, vêm os estados de Minas Gerais, com 112 cursos em 189 municípios, e da Bahia, com 105 cursos em 227 municípios. De acordo com a lista de cursos credenciados disponível no site do MEC, as graduações a distância oferecidas pelo maior número de instituições, nesses três estados, são pedagogia e administração, seguidas de perto por gestão de recursos humanos, gestão financeira e ciências contábeis. Holz observa, no entanto, que alguns concursos públicos para o primeiro ciclo do ensino fundamental, como os que são abertos pela prefeitura de São Paulo, por exemplo, não aceitam candidatos com o diploma de pedagogia obtido em curso de EaD. O número de queixas recebidas pela Abe-Ead relacionadas a esse tipo de problema é grande e os concursos públicos que não aceitam diploma de cursos a distância estão sendo questionados na justiça.



Para o presidente da Abed, qualquer curso pode ser oferecido, senão totalmente, pelo menos parcialmente a distância. Holz endossa: “É óbvio que é importante entender que algumas áreas, em especial a área da saúde, têm obrigatoriedade e necessidade de atividades presenciais que são insubstituíveis. Tomados esses parâmetros, da necessidade presencial de cada profissão, todos os cursos podem ser a distância”. As áreas do mercado com melhor aceitação de profissionais formados em EaD, de acordo com Tiago Sereza, da Catho, são as de tecnologias da informação, administração, marketing e vendas e recursos humanos.

Para Holz, a educação a distância é muito importante para o desenvolvimento do Brasil. “No interior do Brasil é que a gente tem visto o que a educação a distância está fazendo pelo país. Muitos dos alunos de EaD são pessoas que não estariam no ensino superior se não fosse a educação a distância”, afirma. “A expressão ‘à distância’ dá uma conotação ruim, dá a impressão de que você não está presente, e é o oposto. A tecnologia está aproximando as pessoas da educação; estudar à distância não significa não estudar; os cursos não são mais fáceis, eles são mais difíceis”, completa. O resultado é que desde 2007, os graduados por EaD têm conseguido, em média, nota superior aos que cursam ensino presencial no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade), segundo o Censo EaD.BR 2011. Holz finaliza: “Hoje em dia, a tecnologia é uma realidade, ela está presente nas nossas vidas e não vai embora. Portanto, ela deve, sim, ser inserida na educação”.

Fonte: Educação a Distância

Governo quer triplicar matrículas em programa de ensino a distância até 2014

Apesar do crescimento e de parcerias como a com a Unicamp, Universidade Aberta do Brasil ainda está longe de cumprir a meta atender 600 mil matrículas nos próximos dois anos
Atender 600 mil alunos em cursos de graduação e especialização a distância até 2014 é a meta do programa Universidade Aberta do Brasil (UAB). Criado em 2005 para impulsionar o número de estudantes matriculados no ensino superior, o projeto de educação a distância mantido pelo governo federal ainda está longe da meta. Desde 2007, quando as primeiras turmas começaram de fato suas aulas, 35 mil se formaram e há 220 mil alunos matriculados.

Na opinião do professor João Carlos Teatini, que é diretor de Educação a Distância da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior (Capes), o País demorou a investir na modalidade. “A educação na modalidade a distância poderia estar consolidada no Brasil não fosse o apoio tardio, ou mesmo a negligência, em termos de política pública federal de anos. Atrasamos quase 40 anos para começar”, afirma.

Teatini refere-se a um projeto de 1972, que ficou engavetado no Congresso Nacional, para criar algo como a UAB. Ele reconhece que muitas experiências de investimento na modalidade foram feitas ao longo dos anos. Mas, para ele, faltaram políticas públicas para estimular a educação a distância. “Precisamos ampliar a oferta de vagas públicas. Em país continental como o Brasil, a oferta a distância não é só uma solução. É indispensável”, pondera.

Apesar de os números estarem distantes da meta estabelecida para o final do governo da presidenta Dilma Rousseff, ele não acredita que triplicar o número de matrículas atuais seja um desejo ousado. As metas, inclusive, foram determinadas em fevereiro deste ano. Teatini aposta nas crescentes parcerias com instituições estaduais de ensino – que chegam mais ao interior do País – e novos projetos desenhados dentro do programa para chegar lá

Até julho deste ano, 101 instituições públicas faziam parte do sistema, que oferece cursos de graduação, especialização, tecnólogos e extensão em todos os Estados brasileiros. Ao todo, 638 polos de apoio presencial – onde os alunos realizam atividades práticas, têm encontros regulares com os professores e tutores e possuem biblioteca e computadores à disposição – estão em funcionamento. Em agosto, mais duas universidades entraram no sistema.

A Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e a Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) são as novas parceiras do projeto. Ainda não estão definidos todos os detalhes da oferta de curso, mas, para Teatini, as primeiras propostas serão apenas o início de projetos em várias áreas. “A Unicamp, por exemplo, se interessou pelo Programa de Mestrado Profissional em Matemática (Profmat) da UAB inicialmente. Mas nada impede que ela ofereça graduação amanhã”, explica. Há 2,8 mil alunos sendo beneficiados pelo programa.

Além do Profmat, ele aposta em projetos específicos assim para aumentar a quantidade de estudantes matriculados. As sociedades de estudos de Física e Química também estão elaborando propostas de cursos de especialização a distância, que poderiam ser oferecidos pelas instituições que fazem parte da UAB. “Estamos elaborando novos programas, como um curso nacional de graduação em Biblioteconomia. A meta vai ser cumprida”, garante. A capilaridade das instituições estaduais, para ele, também será essencial nesse processo.

A Capes é o órgão responsável por cuidar das parcerias e organização da UAB desde 2009. Para o Ministério da Educação, a história de sucesso no reconhecimento da pós-graduação brasileira, que é de responsabilidade da Capes, consolidaria mais rápido a qualidade dos cursos oferecidos pelo programa.

Preconceito
Para impulsionar o crescimento do programa, que recebeu R$ 1,5 bilhão entre 2007 e 2011, será preciso também acabar com preconceitos e barreiras físicas ainda existentes. Há instituições e professores de prestígio que não enxergam a educação a distância como possível formadora de profissionais qualificados. Além disso, os próprios sistemas de avaliação de cursos e produção de docentes não incentivam os professores a trabalhar com a modalidade.

Meta:  MEC quer 10 milhões de universitários no País
Quem explica é Rui Seimetz, coordenador adjunto do projeto da UAB na Universidade de Brasília (UnB), uma das pioneiras no programa. “A atuação nos cursos a distância não dá benefícios no progresso funcional do professor. A maioria das atividades a distância não tem pontuação para a carreira, a bolsa para atuar como tutor de disciplina é de R$ 765 por 20 horas de trabalho semanais. O pagamento não é proporcional ao esforço”, afirma.

Com isso, é mais difícil convencer muitos departamentos e docentes a criar cursos no programa. “Os nossos cursos atuais estão bem institucionalizados, mas ainda temos problemas nesse sentido”, afirma. Siemetz conta que, atualmente, a UnB possui 3.038 alunos matriculados nos nove cursos, oferecidos em 31 polos. Mais de 200 estudantes já se formaram e 665 professores e tutores estão envolvidos com as atividades deste semestre, seja diretamente nas aulas ou na elaboração de material, por exemplo.
O coordenador faz questão de ressaltar que, na prática, não há diferenças de qualidade nas aulas e materiais oferecidos para os estudantes dos cursos presenciais ou a distância. A cada mês, as turmas de cada curso, de todos os polos, têm pelo menos dois encontros presenciais com os tutores. “Esse é um compromisso muito importante. A gente vê nos olhos deles a emoção que sentem por ter uma universidade perto de casa. Eles não saem de lá”, conta.

Maria Nazareth Marques da Silva, 47 anos, conta que ela própria venceu o preconceito contra a internet e as novas tecnologias depois do curso. Amante das artes cênicas, decidiu se inscrever no curso de graduação em teatro que a UnB ofereceu em sua cidade, Cruzeiro do Sul, no Acre. Era a primeira turma, ainda em 2007. Nazareth admite que só sabia ligar e desligar o computador.
“Eu tinha pavor do computador. Achava que a internet estava tirando das pessoas o gosto pela leitura, tinha muito preconceito e sofri com a minha adaptação”, conta. Professora há 12 anos, formada em Pedagogia, ela admite que não acreditou que o curso chegaria ao fim. Hoje, ela diz que a graduação mudou sua vida. “Eu desenvolvi potencialidades que eu nem imaginava que tinha. O curso me tirou da acomodação e vi que é possível aprender a distância”, garante.

Opção pela nova modalidade
Arlem Nelo Pessoa, 24 anos, se formou em Educação Física pelo curso a distância da UnB. Ele desistiu de um curso presencial de Geografia na Universidade Estadual da Paraíba para encarar o desafio de estudar sem entrar em sala de aula todos os dias. Em sua cidade, Jacaraú (PB), não havia a oferta de educação física. “Eu achei que ia ganhar o diploma fácil. Mas logo vi que estava enganado: o curso a distancia exigia mais de mim do que o presencial”, diz.

O jovem que queria ser professor não imaginava que colheria tão rapidamente os frutos de seu esforço. Antes mesmo de se formar, foi aprovado para dois concursos para professor de educação física da rede pública. Um no Rio Grande do Norte, outro na Paraíba. “A falta de profissionais da área aqui na região é enorme. Vi que aprendi tudo o que precisava mesmo e me empolguei com o projeto. Agora, sou tutor do curso aqui”, conta, orgulhoso.

Fonte: Ultimo Segundo-IG